Quando a paixão é maior que os obstáculos, tudo é possível, e nunca é tarde para experimentar uma nova modalidade ou sermos os nossos próprios professores. O João Luís Azevedo é uma pessoa carismática e persistente, que fez a transição de jogador de futebol a fisiologista. Trabalhou no Grêmio, mas mais tarde voltou para a equipa que considera ser da sua família, o FC Vizela.
Atualmente, além de trabalhar com jogadores de futebol, também trabalha com atletas olímpicos, como Salomé Rocha, e almeja um dia trabalhar no ciclismo. Como sabe que a ciência está em constante mudança, acredita que é essencial estar sempre a ler e a fazer apontamentos para, um dia, passar os seus ensinamentos a alguém que precise.
João acredita no sucesso da sua equipa e dá apoio a todos os jogadores, especialmente àqueles que ficam no banco. Ouça este podcast para descobrir o porquê.
Inspired by Legends com João Luís Azevedo: Da paixão pelo futebol à excelência no treino
Ver o podcast aqui
Miguel: Se acreditas em abraços, se tens orgulho onde vens e se achas que uma equipa é muito mais do que cores, então este podcast é para ti. Eu sou o Miguel Soares, fundador da BYMS, e criei este podcast “Inspired by Legends” para encontrar e celebrar as lendas do hoje em dia.
Hoje tenho o enorme prazer de receber alguém que é sem dúvida uma inspiração e um grande amigo para mim, João Luís. O João é apaixonado por desporto, licenciou-se em Ciências do Desporto na Universidade do Porto, realizou uma especialização no Grêmio, clube que atua no Brasil. Foi um dos selecionados para representar a Universidade de Futebol de Onze, Futebol de Sete e Futebol de Praia, já fisiologista na equipa sub-19 do Futebol Clube Vizela, onde eu joguei e tive o prazer de conviver com ele. Depois, atualmente trabalha na equipa sénior do Futebol Clube Vizela e trabalha com atletas olímpicos, como Salomé Rocha, que prepara a terceira participação nos Jogos Olímpicos.
É por isto e muito mais que o João Luís, é uma honra ter-te aqui hoje comigo.
João L: Antes de mais, obrigado pelo convite, obrigado pelas palavras, mas mais do que isso, atribuíste a melhor palavra que define a nossa relação, amizade. Há pouco estava aqui, ainda antes de iniciarmos, a falar um pouquinho de muitos outros que se cruzaram connosco e que têm um enorme prazer ainda hoje de serem amigos. Como o Edu e como o David, por exemplo, o Hugo, não querendo faltar respeito aos outros. E então, a partir do momento que me… que me chamaste, é óbvio que quis participar, acima de tudo porque sou muito grato pelo que fiz até hoje, mas também por tudo aquilo que consegui, de alguma forma, construir. Por base de uma formação, mas acima de tudo por base de pessoas. Pessoas essas que são importantes para o meu trajeto e que irão continuar a ser, porque o passado já lá vai, mas conseguimos muito através do passado, representar-nos no futuro e perceber um pouquinho o que é que queremos ser e o que é que queremos fazer.
Miguel: Tu falas muito nesta tua formação e nestas pessoas que estiveram no teu caminho até agora. Quem é... o que é que tu consideras que é uma pessoa lendária para ti? Uma pessoa que tu olhes como exemplo e como inspiração? Pode não ser uma pessoa famosa, alguém que foi, de certa forma, importante na tua vida, que te levou a ser quem é que tu és hoje?
João L: Eu... eu sou um pouco de... a maior parte dos jogadores, hoje em dia, lá às vezes dizem, ah, prof, prof, prof, e eu acredito que muita da influência que nós temos vem da nossa educação e essa eu tenho uma sorte imensa pela que me foi concedida pelos meus pais. Mas a minha formação académica, eu acho que a maior parte dos professores, muitas das vezes, nem sequer entendem a real importância que tem para nós ao final destes 10, 15 anos em que já estou a lecionar.
Vou atribuir o nome a três, porque é impensável eu não dar, que é o professor da metodologia, naquela altura de condição física, que é o professor José Augusto, que já tive a honra de o convidar para falar lá em Vizela. O professor André, que hoje em dia está a trabalhar com a Federação Portuguesa de Futebol e uma outra pessoa que é uma referência em termos individuais, porque está… hoje em dia eu tenho o prazer de ser adversário dele, ok? Eu aprendi com ele e é o fisiologista da equipa técnica do Futebol Clube do Porto, o Eduardo.
E eu penso muitas das vezes que a forma que quando os vejo não existe um obrigado, é aquela questão de olhar para eles ainda como se eles fossem inalcançáveis. Tipo pessoas, referência para ti, e o mais engraçado é que muitas das vezes as pessoas dizem ah, mas eles já competem contra ti, e eu digo, tá, ok, mas eles quiseram fazer-me ser esta pessoa, então eu sou muito feliz, e são estas três pessoas. Há muitos outros professores incríveis, um deles é o Carlos Rezende, lá está, e esse não é pela minha área de intervenção, mas já pela questão da gestão de pessoas. Eu adorava-o ouvir falar, porque ele falava dos jogadores dele e as pessoas que o acompanhavam como o sucesso, sabes, a chave e eu acabo por perceber que há muitas formas de ganhar e há muitas formas de ser bem sucedido, e então eu acho que estes quatro professores, para todos sempre, eu acho que nunca lhes disse de uma forma direta, mas eles são claramente as minhas referências, e são neles que eu penso que quando estou a fazer alguma coisa, a quem eu devo agradecer, digamos, porque me inspiraram.
Miguel: E o que é que tu achas que nesses professores, qual foi a característica neles que achas que te cativou mais, e que te fez ser a pessoa que tu és hoje e que te inspiram mais?
João L: Ok, isso depois é muito bom, porque todos eles têm personalidades muito diferentes, ok. Do género, o professor André, ele é uma pessoa super empática, sabes, é aquela pessoa que chegaria hoje aqui, falaria contigo como se te conhecesse há 20 anos.
Miguel: Isso é espetacular.
João L: Tem uma capacidade de comunicação muito boa e de se saber posicionar, sabes…
Miguel: Exato
João L: … no local, e isso é das melhores características que eu digo que as pessoas podem ter, então é essa. O professor Carlos Rezende, lá está, ele mesmo sendo treinador, ele vinha da área da gestão desportiva, e acho que é essa capacidade de ele perceber as coisas como um todo, sabes, a importância de eu, tu, ele, e tentar encontrar aqui uma simbiose que faça com que tudo funcione.
Depois, pá, um crânio, o professor Eduardo Oliveira é incrível, ele quando aceitou, para tu teres noção, trabalhar com o futebol clube do Porto, ele estava no maior projeto nacional, ele estava com o IPO, digamos, a fazer ou a prescrever treino para pacientes com cancro, digamos,
Miguel: Ok.
João L: Por isso, imagina a responsabilidade que lhe é concedida num país, digamos, um projeto incrível, que ele ainda hoje, de alguma forma, intervém, e depois acaba por participar.
O professor José Augusto, é para tu pensares que ele hoje deve ter. Ai, eu não gosto de dizer a idade dele, mas deve ter entre os seus 70 e os seus 80, e ainda faz maratonas de remo, tem uma condição física incrível. Para tu teres uma noção, ele participou na equipa técnica que jogou Portugal no Mundial 2002 na Coreia, e ele voltou de bicicleta.
Miguel: Fogo!
João L: E ele é uma pessoa super ativa, vem também de uma outra geração, ok, ele vem da base militar, digamos, ele estudou e foi para a academia, e depois isso o fez, ele mostra-te algo que é a resiliência, sabes, tipo, é aquela pessoa que te, é óbvio que nós não podemos dizer que tudo vai correr bem. Mas tu tens que lutar para as coisas acontecerem, sabes, e ele mostra-te exatamente isto, porque ainda hoje, ele há meia dúzia de meses atrás, voltou a ganhar uma categoria mundial, acima de uma certa idade, digamos, e foi ele que o ganhou.
Miguel: E tu falas, e tu falas dessas pessoas também, mas se te conseguires abstrair um bocadinho do teu mundo, e saíres um bocado cá para fora, e vires o teu percurso de fora, é realmente incrível, e também a resiliência que tu tiveste para, como tu dissestes, que para... parecia inalcançável chegar à posição onde essas pessoas estavam quando tu estavas a aprender com elas, e agora estás a competir com elas, isso é incrível.
O que é que tu achas? Tu também falaste que um deles está a trabalhar no futebol, o Clube do Porto, e vocês continuam amigos, tu achas que estas amizades podem continuar independentemente dos clubes? Porque eu cada vez vejo mais que o clubismo parece que cega às pessoas e que traz desvantagens, mas isso nem sempre é verdade. E o que é que tu achas disso?
João L: Não, eu costumo dizer que no dia de jogo eu sou um animal competitivo, ok? Eu não gosto de perder a nada. Acho que muito daquilo que me caracteriza, parte um pouco por aí, ok? Porque eu adoro competir a virar uma carta, a tirar uma moeda ao ar, o que quer que seja. Eu acho que tu percebeste isso enquanto eu fui teu treinador.
Miguel: Sem dúvida.
João L: Eu tenho um carácter especial, ok? Eu sou... Eu costumo dizer que sou muito boa pessoa, mas no desporto eu sou muito boa pessoa até ao dia da competição, ok? No dia da competição eu acho que é guerra, eu acho que tu tens de fazer tudo para ganhar, tudo, dentro do limite e da regra, ok? Porque faltar ao desrespeito na hora vai, por vezes vai acontecer, mais na nossa modalidade que eu hoje estou, e vou-te dar agora outro exemplo depois disto, no futebol, porque o insulto está cada vez mais fácil no futebol. E eu contra mim falo, eu próprio o faço.
Há dias eu fui expulso e no final do jogo eu fui pedir desculpa. Fui pedir desculpa à pessoa que o fiz, e fui pedir desculpa ao árbitro, bati à portinha, sem vergonha nenhuma. E disse, olha, era só para lhe dizer, você expulsou-me bem, mas a minha ofensa não foi para si. Ele disse, não, não, eu sei exatamente o que tu disseste. E mencionou as palavras, descreveu tudo aquilo e disse, pronto. Então, Fábio, que era o árbitro, disse: “olha desculpa e continuação”. E saí dali. Eu acho então que passa um bocadinho por aí, eu acho que as pessoas hoje em dia têm de pensar que o desporto muitas das vezes serve para unir as pessoas.
E o exemplo que eu te queria dar, eu fui este fim de semana passado ao MotoGP, e eu sou um apaixonado pela Fórmula 1, mas fui em companhia, porque eu acho que nós temos de ser gratos por ter um português a competir àquele nível, e então eu acompanho as provas dele, os tempos dele, mas não te sei dizer exatamente se a mota dele é boa, se não é, sei quem é que são os campeões, mas não entendo da modalidade tanto como a Fórmula 1.
E então eu fui, fui pela experiência, estive lá, e eu acabei por perceber uma coisa incrível, que é quando um piloto, italiano e espanhol caíam, os restantes adeptos que tinham uma adoração pela Ducati, pela Aprilia, pela KTM, batiam palmas quando ele voltava à prova. Isso é algo que no futebol, eu próprio digo que não acontece, que é...
Miguel: É muito difícil.
João L: É muito difícil. Tu ficares, não se trata de tu ficares feliz, porque quando ele cai, é óbvio que ele vai para o fim do pelotão, mas é o facto de ele cair e ele querer voltar à prova mesmo sabendo que já não vai ganhar, sabes?
Miguel: Pois é.
João L: Eu fiquei estupefacto quando caiu o Bahia, que é o campeão, pá, e os espanhois ao meu lado a bater palmas porque ele voltou, porque ele quis competir e porque...
Miguel: Isso é o melhor do desporto.
João L: Exatamente. E eu, cada vez mais eu digo isto, eu sou um confesso admirador da maior parte das modalidades. Há pouco estava aqui a falar da Final Four, da questão da participação aqui do Vitória. E eu acompanho essas provas todas e eu noto que nas outras modalidades não há esta questão das pessoas não respeitarem tanto. Ok, o adversário, o resultado, porque o resultado vai estar sempre inerente ao jogo, e as pessoas vão ficar chateadas ou não, mas acima de tudo eu acho que, e em Portugal cada vez mais nós estamos melhores em tanta coisa, eu acho que nós temos de melhorar esta passagem de informação e de comunicação, mesmo para os mais pequenos.
Miguel: Exato.
João L: Ok.
Miguel: E tu antes de trabalhares agora no staff de uma equipa de futebol, tu quando eras mais novo também jogaste. Estiveste nas camadas jovens do Vitória Sport Club, e certamente tinhas o sonho de seguir a carreira profissional.
Quando é que achas que esse sonho de seguir a carreira profissional como jogador se desviou um bocadinho para esta agora tua nova vertente de estudar para esta parte da fisiologia?
João L: Ah, esta pergunta acaba por ser fácil, eu desde muito cedo vejo muito mal, ok. Esta semana marcaram uma operação importante para mim, cerca de dois meses e eu ainda a vou adiar, olha foi algo que ainda nem sequer falei com a minha mulher, por exemplo, ou com a minha mãe, porque é algo realmente, eu com cinco anos via mesmo extremamente mal. Perdi a percepção às cores, do daltonismo, mas sempre tive a felicidade de ser bom aluno, sabes. Por base da educação dos meus pais, eu acho que ninguém é bom aluno porque quer, porque toda a gente gosta de ir para a escola, mas ninguém gosta de ir para a escola para estudar,
Miguel: Exato.
João L: Gosta de ir porque gosta dos amigos, mas os meus pais, e principalmente nisso a minha mãe, ela sempre foi muito do, ah, não tem mal o futebol, eu quero é que tu sejas bom aluno, ok. E então eu desde muito cedo, sabes que é aquela ideia de tu vais ouvindo uma vez, ouves dois, ouves três, ok, então se calhar o melhor mesmo é, as coisas não correram tão bem, então fui. Felizmente fui estudar algo que gosto de fazer e consegui, graças a Deus, após estes quase quinze anos, estar num nível em que, muita gente eu acho que no meu meio, ao meu redor durante muitos anos, estudaram comigo, ainda não estão, outros estão, e eu lá está, partilho da felicidade de ser, mas também partilho da felicidade de ver, alguém que estudou comigo, estar ao mesmo nível que eu. Estar melhor que eu, porque acho que faz bem, tu gostares do bem das outras pessoas, e delas terem…
Miguel: Sim.
João L: … não se trata de ter mais sucesso ou menos sucesso, porque eu, muitas das vezes, e hoje em dia na minha área, as pessoas perguntam, ah, “qual é o teu maior objetivo?”, ah, o meu maior objetivo não é a bola entrar, ok. É eu pôr o jogador pronto, para ele conseguir ou ter maior probabilidade disso acontecer, porque, parto um bocadinho por aí, a minha função não é dizer-lhe exatamente o que é que ele tem que fazer, mas sim prepará-lo para isso.
Miguel: Exato, e tu disseste também que, que gostavas que as pessoas com quem estudaste, também estivessem bem, porque é da mesma opinião que eu partilho. O nosso sucesso, não está ligado ao falhanço dos outros, se nós formos bons, e se trabalhamos muito no que queremos, eu acredito que vamos ter resultados. Com mais brevidade, ou menos brevidade, vai acabar por acontecer esses resultados. Por isso, acho que é isso, nós temos que torcer sempre pelo outro, porque também nunca sabemos quando é que vamos precisar deles.
João L: Sim, exatamente.
Miguel: E vamos precisar de uma mão amiga para lhes ajudar.
João L: E no desporto então, hoje tu estás aqui, amanhã estás cá, e de repente, pá, é normal. Porque eu costumo dizer, que o desporto é maravilhoso de trabalhar, mas é uma pressão incrível, que a maior parte das pessoas, muitas das vezes, acaba por não perceber.Que o resultado tem muita influência na nossa vida pessoal, e eu digo sempre, tu podes fazer tudo bem, mas o adversário também faz no mesmo dia, e ele ganha-te, e tu não estiveste mal. Tu simplesmente estás todas as semanas, constantemente, eu digo sempre, a lutar para derrotar alguém.
Miguel: Exato.
João L: E isto, as palavras são duras, porque é a mesma verdade, tipo, eu digo, eu saí agora do clube, há pouco, e tenho jogo domingo. Domingo de Páscoa, imagina, esta semana trabalhei a semana toda, temos jogo no domingo de Páscoa, e, eu tenho a certeza, que o Casa Pia está a trabalhar imenso, e nós estamos a trabalhar imenso, e nós vamos jogar. E pá, e vais chegar ao dia, e alguma coisa acontece, simplesmente, a bola bate no poste e vai para fora, ou bate no poste e vai para dentro, e um de nós vence, e percebes, e então é por isso que eu acho, o processo é super importante, e cada vez mais eu falo processo, processo. Porque eu acho que o processo vem das pessoas, sabes, é aumentar probabilidades, a minha importância, a tua, a do físio, pá, toda a gente, para garantir as condições, para a nossa equipa ter o melhor rendimento possível. Pá, e depois no dia de jogo eu costumo dizer, bato o apito do árbitro, e aí a minha responsabilidade já é baixa, sabes. Porque eu fiz o máximo, para que eles estejam disponíveis e prontos.
Miguel: E nesse processo, para os jogadores estarem bem, tu és das pessoas mais importantes num staff, num staff técnico. Que importância é que dás a essa parte da fisiologia, e o que é que me podes explicar, para quem também ainda não sabe tão bem o que é que um fisiologista faz. O que é que vocês fazem durante a semana, qual é o vosso processo para chegar até ao jogo?
João L: Basicamente então, acaba por, muitas das vezes as pessoas acabam, não é por confundir, digamos, porque pode ser a mesma pessoa a desempenhar as diversas funções, mas o que acontece é, nós temos um preparador físico no campo, ok, alguém que executa, e que pensa o treino, junto com a equipa técnica, e consoante os dias existem diversos objetivos, numéricos, por exemplo, e aí já entra a minha parte, que é a parte do GPS, da análise, e de descrever aquilo que os atletas devem fazer num valor global, ok? Essa é uma das primeiras, e que é as mais importantes, é encontrar perfis, seja de equipa e de perfis individuais, e depois perceber, ah, o atleta precisa, não é preciso de correr mais que 500 metros, ou menos 500 metros, mas aquela é a característica dele, ok? Tu queres que os atletas andem sempre perto do seu máximo rendimento, então isto é algo que sabes, é tipo uma chave de parafuso que tu vais apertando e desapertando, é tira e mete.
Depois, outra das fases, muito importante, e essa é aquela que eu mais valorizo, acima de tudo,é a questão do return to play, eu faço a ligação com o departamento médico, assim que o jogador se lesiona, e está numa fase embrionária para fazer o seu regresso, eu faço todo o acondicionamento para ele voltar, e essas são as minhas maiores vitórias, eu digo sempre.
Acontece que, como aconteceu há cerca de um mês atrás, um atleta nosso aleijou-se. Fez uma lesão super grave, digamos,e tinham dito que a época dele tinha terminado, que iria ter uma cirurgia. Por consequência disso, e o que aconteceu foi que olhámos uns para os outros, pá, e depois, é aqui que eu te digo, que é, tu tens de gostar mesmo das pessoas com quem tu trabalhas. E eu adoro aquele jogador, neste caso, e eu disse-lhe, opá, no que depender de mim, tu não és, e eu não te consigo prometer que tu vais jogar ainda este ano, mas eu prometo que tu vais estar pronto para jogar. E o que acontece é que passado sete semanas, ele na próxima segunda-feira vai fazer uma consulta, porque o gajo está completamente apto na função, e falta-lhe ainda alguma força, mas possivelmente duas, três semanas vai estar, percebes? E isso é aquela, são aquelas medalhas que a maior parte das pessoas, eu tenho lá um pequeno lugar sagrado em casa, como este, e eu tenho diversas mensagens que os jogadores me enviam, graças a Deus, e mesmo alguns treinadores, e eu fiz print, sabes, e guardei lá.
Porque, no final de tudo, eu quero é que daqui a 10, 15 anos, quando eu terminar isto, posso olhar para trás e pensar, ah, incrível, ajudei este, ajudei aquele.
Miguel: E as pessoas gostam de ti depois.
João L: Exatamente, e a maior parte, às vezes eu tenho este dilema que o pessoal diz, ah, no futebol, tipo, tu de alguma forma não podes, as pessoas não estão lá para ser amigas. Eu digo, ah, isso é mentira, esquece.
Miguel: E a prova contrária a isso é, nós estamos aqui a falar.
João L: Somos nós, nós estamos aqui a falar...
Miguel: Exatamente.
João L: Exatamente, e há pouco eu estava a falar de duas pessoas que gosto muito, o Edu e o David, e é isso mesmo, tu pensares que de alguma forma tu influencias, porque muitas das vezes tu achas que estás, no futebol tu só estás, ou neste caso no desporto, tu só estás a influenciar a vida da pessoa ali, mas não, é a vida dela que lhe vai permitir aquilo, ser melhor marido, melhor namorado, porque ele vai para casa e vai feliz, e a pessoa está muito feliz a fazer o que gosta, tudo o resto à volta flui, sabes? E então, eu acho que parte um bocadinho por aí, então se eu conseguisse dividir as minhas funções, seria aconselhamento por ligação com uma outra pessoa, o return to play, e depois eu sou um nerdzinho que trata toda a métrica que tu possas imaginar e faz essa comunicação com a equipa técnica, com os jogadores, e sou o gajo chato que diz. Ah, hoje tiveste abaixo, hoje tiveste acima, mas mais vezes que tiveste…
Miguel: Que tiveste abaixo.
João L: A baixo e bato palmas, e como ainda hoje aconteceu no treino. Eles hoje treinaram bem, e eu cheguei ao final do treino, e eu partilhei e disse, bom esforço a todos. Porque eu acho que acima de tudo, tu não tens que chamar a atenção só quando as pessoas fazem mal, mas também tens que elogiar quando elas fazem bem, ok?
Porque eu acho que, mais uma vez, a minha posição, eu acho que não é a posição de um pai, mas eu tento fazê-la como tal. Porque é incrível, porque eu tenho atletas que são mais velhos que eu, e sempre tive, só numa fase embrionária, quando treinei as vossas categorias, mas mesmo assim eu tinha uma idade muito próxima da vossa, e eu tentava-me posicionar de forma a conseguir saber estar convosco, brincar, porque é importante brincar, criar relações, mas depois também vocês perceberem o que é que é preciso ser feito. E graças a Deus, as coisas resolvem-se, e acabam por acontecer, e é aquilo que eu te digo, o meu trabalho é balizado pela nossa amizade. E passado 10 anos, por exemplo, um jogador lesiona-se e liga-me se pode recuperar comigo, percebes?
Miguel: Isso é bom, isso é um reconhecimento do teu trabalho.
João L: Exatamente, eu digo isto, eu tenho um atleta ou dois atletas que vêm, a distância é maior que Santa Maria da Feira, um vem de Santa Maria da Feira e o outro do centro, e trabalham uma vez por semana comigo, percebes? Eu a esses, eu até costumo dizer, eu baixo o preço, sabes porquê?
Miguel: Porque tiveram aquele…
João L: Porque a minha vitória é eles ainda quererem continuar comigo, percebes? E isso eu costumo dizer, é óbvio que o dinheiro é importante, dinheiro é importante para tudo, mas são este tipo de vitórias que tu acabas por ter, que, meu Deus, te reconfortam, sabes, é bom.
Miguel: Nós temos a nossa amizade, eu considero que é uma amizade bastante boa, e fizemos amizades ao longo da nossa carreira, a minha mais curta, a tua mais comprida. Fizemos grandes amizades. Quais são os valores que tu procuras nessas amizades? Que valores é que tu encontras quando estás a trabalhar e que gostas mais de encontrar quando estás a trabalhar com algum atleta?
João L: Eu costumo dizer que é a sinceridade. É a questão de tu dizes, opá, tivemos mal, e eu quando digo tivemos mal é porque, eu próprio erro. Se eu digo, o Miguel tem que jogar, ou eu acho, partilho da opinião, junto de um staff, o Miguel tem que jogar, e o Miguel joga mal. Eu comecei a tomar a decisão, partilho nossa, e muitas das vezes o que acontece é que os jogadores para começar são os primeiros a saber quando jogam mal, ok? E eu aí eu acho que é a sinceridade, e depois eu digo sempre que são os timings da sinceridade.
Eu tenho um jogador que tu conheces, o Samu, depois já vou lhe dizer para ele vir aqui falar nisso. Porque ele acima de tudo, ele não parece jogador da bola, sabes? E ele é aquele... Eu quando digo não parece jogador da bola, é que toda a gente tem uma imagem do jogador da bola, sabes, aquele ídolo, e ele é um gajo super terra a terra, é incrível. E ele próprio me diz, e ele descobriu-me, eu costumo dizer que ele tirou-me a careca. Descobriu-me a careca, porque ele diz, ah, eu já percebi quando é que tu me dás dura, e quando é que tu não me dás dura. Tu, quando nós jogamos mal e perdemos, tu durante os primeiros dias, tu andas carinhoso connosco. Claro, sabes porque é que eu ando? Porque eu preciso deles para a semana, são eles que jogam, não sou eu. Percebes? E então, quando eles ganham, aí o que é que eu faço? Eles esquecem, vou para cima deles a toda hora, porque a tendência é relaxar. Então o que é que eu digo? É esta questão de sinceridade no trabalho sempre, perceber qual é que é o momento de fazer as coisas. A sinceridade no, ah, agora é o momento de trabalhar, é o momento de trabalhar, e a sinceridade no momento de dizer que estamos bem ou estamos mal, e depois a partir daí, também lá está, a sensibilidade.
Eu digo sempre, no futebol e no desporto, e acho que na vida, sabes? Saber-te posicionar, saber quando... Eu digo sempre, aqui para mim é difícil estar a falar sem calão, porque eu uso calão em tudo, é uma coisa incrível. Aqui eu tenho de estar muito cuidadosamente a escolher as palavras, mesmo sendo este espaço formal e informal ao mesmo tempo, e então, eu digo sempre, tu tens de ter a sensibilidade de perceber o momento, como é que eu posso falar com o Miguel, como é que eu posso falar com o David, como é que eu posso falar com o Edu.
Miguel: Sabes porque as pessoas são diferentes.
João L: As pessoas são diferentes.
Miguel: E reagem de maneira diferente à...
João L: Ah, exatamente isso. ...
Miguel: … à informação que tu lhes vais dar. E tu tens essa sensibilidade de falar de maneira diferente com as pessoas e comigo, e chamavas-me muitas vezes a atenção quando eu estava mal.
João L: Sabes qual é o teu nome no meu telemóvel ainda?
Miguel: É Gordo. Porque quando eu estava no Vizela, podia estar, devia estar mais abaixo a nível desses percentuais de gordura, mas depois aumentos correspondiam em campo e também já não era assim tão grave. Para tu perceberes, este ano nós recebemos um jogador, que é o Bruno Costa, que veio do Porto, e eu não vou dizer que ele tem peso a mais. Ok, vamos imaginar que tem.
E imagina que eu trato por gordinho. Eu digo, oh Gordo, faz isto, faz aquilo. E às vezes as pessoas, à voltas, dizem, ah, e atribuem-lhe isso. E ele diz, oh, não, vocês não podem. E ele pode.
Miguel: Exato.
João L: Percebes? Porque ele criou espaço na minha relação para eu conseguir ter esta abertura com ele, imagina. Que por muito que seja verdade ou não, percebes, é aquilo que eu digo. Tipo, as relações são diferentes, as pessoas podem ser as mesmas, eu quando digo as duas, mas entrando uma outra pessoa, aí não tenho de haver a sensibilidade de eu perceber o que é que posso falar à frente dela, a forma como o posso tratar, percebes? Por isso é que eu digo, eu acho que a sensibilidade é a coisa mais importante no nosso dia-a-dia. E depois, claro, sabê-la aplicar, seja no lado profissional, no lado pessoal, e idem aspas.
Miguel: Eu acho também, é uma das razões pela qual tantas pessoas, pelo menos com quem tu já trabalhaste, gostam de ti. Porque muitas vezes nós não nos relacionamos tanto com as pessoas com quem trabalhámos. Os nossos amigos estão sempre fora de trabalho, mas é incrível como tu consegues trabalhar com as pessoas e depois continuar com uma relação de amizade com elas, como continuas comigo, como continuas com outros jogadores. E tu também, um bocadinho à distância também é um bocado problema, mas continuaste com alguma amizade quando estiveste no Brasil, no Grêmio?
João L: Ah, sim. Imagina. Eu tenho agora a felicidade de estar a ver esses miúdos, que na altura eram miúdos, como vocês, a chegar à primeira equipa e ainda hoje falo com eles. Eu agora tenho um, imagina, um jogador que agora veio para o Braga, no início deste ano, neste caso, foi o ano passado, mas no início, viu há dias, manda mensagem, quando é que posso ir ao Braga, quando é que não posso.
Mesmo o pessoal do staff técnico tem a felicidade ainda de falar com eles. Há dias, quando... Nós, este ano, estamos numa onda de resultados mais negativos, e eles próprios, imagina, têm o cuidado de ter a estrelinha marcada no Vizela, quando nós ganhamos eles se felicitam, sabes, e dizem vai à luta. E então, porque eu acho que daqui, é aquilo que eu te digo, daqui a 10 anos, e depois tu percebes isso, que as pessoas do futebol. Tu gostas imenso das pessoas, mesmo já não as vendo, sabes? É aquela sensação, eu costumo dizer que … as mulheres não podem ouvir isto, mas é aquele amor para sempre.
Miguel: É, é.
João L: Sabes, é tipo, tu gostas daquela pessoa, e passado 5 anos...
Miguel: E podes não estar com ela durante 5 anos, que a relação...
João L: Tu conheces-la para sempre, é isso.
Miguel: Que a relação continua igual, e isso é que é tão bom, e parece que se criam laços no desporto…
João L: Isso!
Miguel: …e no futebol, no nosso caso, que são para sempre mesmo.
João L: É porque um ano lá, torna-se mesmo realmente um ano. Eu costumo dizer que nós estamos, muitas das vezes, 3, 4 horas por dia, nós vemos-nos nus, a toda hora, nós brincamos com tudo, nós fazemos viagens de 2, 3, 4 horas, partilhamos momentos de felicidade e de frustração, que depois também nos marcam, como é óbvio. Tu olhas para trás e tu lembras-te de um jogo, de um treino, o que quer que seja que estava lá. E então, essa é a coisa, eu tenho a felicidade, lá está, alguns deles trabalharam comigo nas categorias de base do Grêmio até ao Sub-20, e também já estão na equipa A, e continuam a mandar-me mensagem, a falar comigo, porque é aquilo que eu te digo, eu acima de tudo tento tratar todas as pessoas bem, fruto da educação que o meu pai me disse. Porque o meu pai diz, todas as pessoas são importantes, e é verdade, de alguma forma. Tu consegues absorver um bocadinho de cada uma das pessoas. E depois, facilmente tu consegues, então, dando o bem, recebes o bem. Não há…
Miguel: Sim, sim, eu acredito perfeitamente nisso. Como nós para receber primeiro temos que dar, porque ninguém recebe só. E é isso. Eu também partilho completamente a mesma opinião. No Grêmio tu criaste amizades que ainda perduram, a tua experiência lá, já conversámos muitas vezes sobre isso, foi incrível. Tu mudavas a opção que tomaste de voltar outra vez para Portugal, para trabalhar no Vizela, ou ficavas lá e ficavas a ganhar o nome, o teu nome, o nome que fizeste aqui, e ficavas lá e fazias lá a tua carreira?
João L: Sabes que essa pergunta é aquela que tu tens uma estrada, e tu tens o bem e o mal, ou o sim e o não, lá, okay? Há sempre o sim e o não, e há sempre o bem e o mal, de tu tomares qualquer que seja a decisão. Eu acho que eu demorei a aceitar a situação, na altura. Eu voltei por fruto de uma situação pessoal da minha família, então achei por bem estar presente, e quis voltar. Sabes aquele sentimento agridoce de tu pensares, e se eu tivesse continuado? Porque o que aconteceu também tem muito a ver com o que fizeste. A dimensão da marca Grémio é uma coisa, digamos, a nível mundial, ok? Eu amo estar em Vizela, não escondo isso de ninguém. Já tive diversas possibilidades de sair, e continuo, por isso já são quase 10 anos. Mas o Grémio é aquele sentimento agridoce, sabes? Porque eu quis voltar, mas eu demorei a aceitar que tinha que voltar, e voltei, porque o meu pai merecia que eu voltasse na altura. E então e então eu quando chego lá, uma recepção incrível, todas as pessoas tratando-me muito bem, fazendo-me sentir parte da casa, sabes?
Aquela coisa, os brasileiros têm uma coisa muito boa, e lá mais ainda, que é, eles têm a cultura do churrasco e tu achas que aquilo é só uma balela, mas não. Acabava todos os... Eu enjoei de carne, imagina. Eu, todos os treinos, acabavam os treinos e eles diziam, opá, pronto, vamos assar uma carninha. Outra vez, outra vez, mas tu acabas por fazê-lo. E então, quando eu voltei, tive de tomar a decisão de voltar.
Então, eu acho que aqui é... Eu valorizo muito o Grêmio, imenso, ainda hoje acompanho, vejo os jogos, e essa também é uma das coisas que me faz sentir, sabes, ainda lá,é ver o Grêmio e o Inter, a rivalidade que existe. Eu participei dela, então é outra das coisas que me faz feliz.
Mas quando voltei, tive de trazer a minha vida para cá novamente, como é óbvio, lá foi apenas uma época, mas é diferente porque lá tu vives exatamente por causa das distâncias, sabes? Uma viagem perto para eles é 6 horas a primeira viagem que eu fiz com eles eles disseram-me, ah, nós fizemos nós vamos fazer um jogo e é perto eu entrei dentro do ônibus lá, como se eles dizem. Opa, e ao final de 3 horas eu já morto dentro do autocarro, saio. E eles disseram, ah, está quase, está a metade. E eu, ui metade.
Miguel: Isto é perto?
João L: Perto. Então eu vou atravessar o Portugal inteiro.
Miguel: Exato.
João L: E é, basicamente eu atravessei o Portugal inteiro e atravessava sempre. E então aquilo torna as relações super próximas, conheci a maior parte das famílias deles, foram super receptivos, só que depois lá está. Não me sinto mal, graças a Deus olho para trás e digo, ah, valorizei. Saí valorizado pela minha presença lá, acho que um dia ainda vou voltar a trabalhar seja lá ou noutro clube do Brasil sinceramente, porque gosto mesmo muito da competição e como ela é distribuída lá mas depois voltei porque também fui aliciado por um projeto que há 10 anos atrás não passa por um projeto. Que há 10 anos atrás é uma não passa de um projeto eu acho que todos nós temos projetos na nossa vida tu tens este, felizmente está-te a correr bem. Eu irei ter um próximo também, espero que também corra bem mas acima de tudo eu acreditei nas palavras de alguém que me quis contratar que é o Tiago, também conheceste. E ele quando falou comigo ele mostrou-me uma coisa de num espaço temporal de 3, 4 anos o nosso objetivo será estar na primeira liga tivemos duas derrocadas perdemos em jogos de playoff completamente uma dor incrível até hoje tenho essa dor. Lembro-me exatamente do que aconteceu naqueles jogos.
Miguel: Na Vila Franquense.
João L: Da agonia que é lá está, pelo resultado. Tu ganhas 34 jogos ganhas 30,
Miguel: Perdes um.
João L: Perdes um não sobes divisão, mas depois as coisas acabaram por acontecer. O que é prova é que foi um tiro, digamos, em cheio continua até hoje, as coisas correm-me bem sou feliz lá, que é importante. Sou feliz com as pessoas com quem trabalho e valorizo isso muito.
Miguel: Isso também se sentes bem isso também é o mais importante eu também também estive lá quando o Vizela perdeu na altura para com Vila Franquense e depois já não pertencendo ao Vizela tive lá também para celebrar as suas vitórias e do Davi também quando vocês viram a segunda liga e a primeira liga. Também tive lá, mas lá de fora do autocarro, a ver-vos lá em cima a derramar champanhe uns nos outros e isso também são coisas que me enchem o coração a mim.
João L: Mas estás a ver, é aí que eu te digo, eu tanto me lembro. Eu lembro-me mais das pessoas à minha volta e é isso que eu também sou feliz. Eu tive amigos meus do Porto, da minha área de formação, que vieram ver os jogos contra o Vila Franquense. Eu tenho a imagem deles no dia que eu perdi.
Miguel: Isso é mesmo chato.
João L: Muitas das vezes o pessoal diz “o pessoal só se lembra quando alguém ganha”. Eu aí até nisso eu sinto-me lisonjeiro, que eu tenho o abraço de um grande amigo meu que já me convidou para vir a trabalhar numa futura equipa com ele, por exemplo, imagina. Eu já lhe disse, um dia nós vamos trabalhar juntos, isso é certo.
Também porque, imagina, esse momento marcou-me e é um momento, tu dizes que é mau, mas não é mau, faz parte do processo. Faz parte do processo, sabe? Ninguém anda só para a frente, muitas das vezes tu dás, ou ficas no sítio, ou dás um passo para trás para depois perceberes que aquilo...
Miguel: E às vezes nem conseguimos saborear bem a vitória se não tivermos nenhuma derrota na vida.
João L: Claro, é isso, é isso. Por isso é que quando nós subimos, eu acho que acima de tudo também foi um alívio para toda a gente, sabes. Porque nós vínhamos com aquela nuvem de trás, de duas não subidas de divisão em playoff e eu acho que as pessoas mereciam muito isso. E os grupos foram incríveis, as pessoas davam-se super bem. Foi o contexto do Covid que fazia com que nós ainda estivéssemos mais juntos, porque não dava para viver a extra, digamos. E então saboreou-se daquela forma ali, interna. Claro que as nossas famílias são as primeiras a saborear tudo aquilo, mas eu sou muito grato, lá está, da mesma forma, porque aquilo foi um momento de aprendizagem e que me fez valorizar depois ainda mais a vitória e as subidas de divisão e as manutenções agora, digamos.
Miguel: E tu só não representas agora o Vizela, como lá está representaste o Grémio, mas também representaste a Universidade do Porto, futebol 11, futebol 7 e futebol de praia. Qual é que foi a modalidade que tu gostaste mais?
João L: Olha…
Miguel: Eu lembro-me sempre de histórias de tu, de futebol de praia e de vôlei de praia e tu arrasavas.
João L: É incrível porque eu acho que todos nós que somos aqui de Guimarães passamos tempos infinitos na Póvoa de Varzim. E então, tu passas lá 3, 4, 5, 6, 6 verões seguidos, 7. Pelo menos eu passei quase até os meus 17 anos. Desde que me lembro, a infância que tenho é todas elas ir com a minha ama, que é a minha tia porque os meus pais trabalhavam e então eu ia com ela um mês, depois ia com o outro, com os meus pais, e então passava lá quase dois meses. E tu de alguma forma acabas por gostar, todos nós, de jogar na praia, o que aconteceu foi que quando eu fui estudar para o Porto, eu tive a felicidade de cruzar-me com um brasileiro, imagina. Que é o Rodrigo, que hoje em dia ele faz treino de técnico individual em Singapura. Quando nos conhecemos, ainda hoje, graças a Deus, é dos meus melhores amigos, e ele tinha uma característica muito peculiar, porque ele era muito parecido comigo em termos de personalidade, tipo, parece uma criança num corpo de grande, percebes? Sabes, aquela pessoa brincalhona com tudo, que nunca parece que sabe, eu quando digo não saber estar. É tipo, brinca com tudo, os timings é de brincadeira em tudo. E o que é certo, até nisso correspondeu bem, ele era esquerdo, eu direito.
O que é que acontece? Para jogar um jogo, quando nos propuseram, nós fomos treinar, demos-nos super bem. Ok, o que é que aconteceu? Aquilo basicamente fez com que nós tivéssemos bons resultados, chegámos a, infelizmente, perdermos duas finais, mas lá está, faz parte.
Mas mesmo assim conseguimos, para os Jogos do Rio, imagina, nós, hoje, vai haver também este ano, eu vi ontem, uma colega nossa, que também naquela altura representava a faculdade, mas na modalidade de andebol de praia, ela vai participar nos showmatchs, porque há modalidades que não são olímpicas, mas se auto propõe e é o andebol, e a Kiki neste caso, ela ontem eu vi que foi uma das selecionadas, e nós na altura em 2016, fomos um dos que fomos convidados para participar de um torneio de 30 e eles selecionavam 2. Infelizmente não conseguimos, foi na Póvoa do Varzim, porquê? Porque eles jogavam todo durante uma vida, praticaram aquilo, e nós tivemos 3 anos, e infelizmente conseguimos nos bater contra eles, mas ganhar era, por isso é que o Bruno Alves tem um sucesso que tem, toda a gente sabe o que ele fez, porque toda a vida fez aquilo. Então ainda tornou-o expert, e sabes que a experiência acaba por ser importante nisso e então aquilo foi basicamente um convívio de pessoas que já eram do futebol, mas que por algum motivo já não podiam jogar porque já eram treinadoras, eu também já já estava lá em Vizela.
Então o timing de poder estudar e participar em algo onde tu consegues ter relações e sabes que muitas das vezes eu costumo dizer que tu aprendes muito numa sala de aula, mas tu aprendes muito também com a experiência dos outros sabes?
Miguel: Sem dúvida.
João L: E nós éramos 12, 14 jogadores e dois deles geralmente eram engenheiros, que também são meus amigos hoje e o resto era tudo a área do desporto. O que é que acontece? Tu ouves, ah eu no treino fiz isto eu tive um jogador que me fez isto. E é aquela questão de, ah, se eu passar por esta situação, com ele aconteceu isto. E tu, de alguma forma, vais ouvindo e permaneces. Foram quase quatro anos em participações. Eu já participei, imagina, que era possível não ser aluno e no ano a seguir, tu ainda participares. E eu ainda fui participar.
Miguel: Fogo.
João L: Fui à Covilhã. E fui com o Sousa. E desde já, o Sousa também, eu sei que já o convidaste, eu espero o ver aqui. Imagina, eu e o Sousa estávamos em Vizela e fomos representar a faculdade à Covilhã com outras pessoas que estão agora também no Boavista. Que também já não jogavam mas lá está, como a relação foi tão boa nós tirámos aqueles, aquele dia e meio digamos, fizemos o esforço de treinar num dia, sair, ir à Covilhã e voltar, jogar outra vez. Porque ainda hoje existem os grupos do WhatsApp, nós revemos-nos muito, percebes? E é...
Miguel: Isso é incrível, não só o desporto em si e as conquistas que vocês foram tendo, mas lá está, ficar com mais amizades e ficar com essas amizades que duram para a vida e que são tão especiais.
João L: Há dias o Porto jogou agora, o Porto Legends contra o Real Madrid. Eu às vezes olho para aquilo e digo, deve ser bom para eles, passados 15 anos, sentarem-se outra vez no mesmo... Tu vais sentir falta, tu vais perceber isso, tu agora ainda jogas. Mas tu ainda vais perceber isso, que no dia que tu deixares de jogar, a coisa que eu mais gosto é o dia de jogo, mesmo. E é totalmente diferente a minha posição hoje no dia de jogo, que é preparar 11 macaquinhos para ir para lá para dentro, matar tudo. Do que eu ser um dos gajos que vai lá para dentro, sabes, e faca na boca e aí vou eu. Porque a minha personalidade é isso, e então o que é que eu tento mostrar? Que aquilo é o dia mais importante da nossa vida, sabes? O que eu digo sempre, muitas das vezes… Vou jogar domingo, a minha família vai estar lá, dia de Páscoa, sabes, tipo...
Miguel: É pressão?
João L: A chover, a chover. Muitas das vezes, eu perco, e tu sabes que a minha mãe fica incrivelmente aterrorizada. Ela entra no estádio e passado 10 minutos sai. Porque a dor dela ainda é maior que a minha porque eu imagino o que quer que seja, percebes? A minha irmã é igual, o meu irmão é igual, o meu pai, a minha mulher. E ele, de alguma forma, eu percebo que aquilo mexe com as pessoas. Por isso é que eu digo aos jogadores, valorizem este momento porque vocês estão a representar muito mais. Há pessoas que se orgulham deles todos os dias. Eu estou sempre a dizer, no futebol tu tens de ser racional e passional ao mesmo tempo. Tu tens de saber o que é que vais fazer, mas tu muitas das vezes tens de saber o que é que estás a representar. É um clube, é uma cidade, sabe?
Miguel: É uma cidade mesmo.
João L: É isso, tipo, e mais Vizela, por exemplo, que é uma cidade pequena. Eu digo sempre, pá, enquanto Vizela continuar neste nível, vai ser bom, porque a cidade vai continuar a ser falada. E eu tento lhes dizer, ah, vocês não são daqui, eu também não sou daqui, mas eu tornei-me de Vizela. Eu já tenho um grupo de amigos meu que é de lá, sabes? E eu vejo a felicidade deles, nos olhos deles, quando eu ganho, eu digo eu, eu Vizela, eu estou feliz por eles, sabes? Tipo, há dias eles foram ver com o meu irmão, a Barcelos, e nós ganhámos, e eu disse ópa, não há nada como que eu consiga-vos, vos agradecer vocês estarem aqui estar então feliz por mim. Tipo levantarem o braço sabes. O que eu disse foi pá olha eu vou arranjar uma camisola de cada jogador para vocês e tenho lá as camisolas para dar do Tomás, do Samu. Porque é aquilo tipo mais uma vez eles eles estão a dar-me, de alguma forma é suporte sabes. Ao longo do teu caminho tu nunca estás sozinho tens sempre pessoas atrás de ti, ao teu lado.
Miguel: Exato.
João L: E tu também és feliz por causa disso que eu sei, graças a Deus e ele, então eu tento sempre compartilhar as minhas vitórias, mas elas não são minhas são muitas mais pessoas.
Miguel: Do grupo que te apoia
João L: Exatamente.
Miguel: E esse grupo vai sempre apoiar-te lá está, não é só nos momentos bons mas nos momentos maus, como tu disseste.
João L: Isso!
Miguel: Como o Vilafranquense. Tu achas que essas duas não subidas foram o teu ponto mais baixo no futebol, algo que te deixou mais triste, ou houve outra história, ou outro acontecimento que te deixou mais abalado?
João L: Não, eu tenho um que é, eu estou em Vizela, mas eu já saí, já voltei, porque me desentendi com uma pessoa. Hoje, eu tenho a noção que faria as coisas de uma forma totalmente diferente. E tenho mágoa, mas depois, lá está. A forma como, quando eu voltei, eu vi as pessoas ao receberem. Aquilo valeu os seis meses, digamos, que eu tive fora do clube.
Foi uma felicidade enorme, eu vi jogadores, e quando eu digo jogadores, não são jogadores, já ali, quando eu entro num dia, após eu assinar de novo, eu entro no estádio de novo, eu entro no clube, eu entro no balneário, eu vejo homens, homens a vir a correr a abraçar-me. E tu sabes como é que é o abraço no futebol, é abraçar, é dar a cacetadas. A felicidade deles, para mim já estava a ganho. Percebes? Então, eu digo sempre, aquele momento mau, ou menos bom, porque eu próprio tenho noção que eu tive culpa, porque lá está, eu tenho a boca muito perto está aqui o fogo está todo aqui. E então, hoje eu tinha feito de uma forma totalmente diferente, mas valeu a pena, sabes? e as não subidas de divisão, uma dor enorme é uma dor que o palavrão tinha de vir logo a seguir. É uma dor mesmo horrível! O primeiro ano, sabes é como tipo partem de uma perna, pá, mas depois tu, ah, ok, agora já consigo esticar a perna.O segundo ano, quando nós não subimos, eu sou-te sincero, eu tive 10 dias em casa onde eu não queria sair de casa, não queria falar com ninguém. Porque tu não sabias o que é que tu, eu já não sabia o que é que queria fazer, tipo, e se calhar para o ano eu não quero continuar a trabalhar nisto, porque tu duvidas de tudo, faz parte da dúvida, só que depois o futebol também e o desporto é isto, são ciclos que se regeneram.
Todos os anos há jogadores que entram e saem, há comissões técnicas que entram e saem, há presidências que entram e saem, os resultados não são sempre iguais e então é isso que tu tens de perceber que são ciclos que se auto regeneram e tu tens de ter a capacidade de te adaptar a eles. E hoje sim, eu estou um ser totalmente adaptável. E isso também vem da maturidade, é óbvio. Porque, parecendo que não, eu ainda sou jovem, eu tenho 35. E as pessoas muitas das vezes dizem, ah, o teu trabalho é um hobby. Porque as pessoas consideram, eu costumo dizer, ah, eu vou dizer quantas vezes é que ele tem que saltar, é óbvio, eu não salto, eu não sou operacional mas vocês têm é que perceber, para eu saber que ele tem que saltar 10.
Miguel: Há muito estudo…
João L: Há muito estudo por trás. Exato. Não se trata de eu ah, tu vais mandar fazer. Ok, mas o saber mandar fazer, o que fazer…
Miguel: …é que ele salta 8 e não salta 6.
João L: Exatamente. E então, é muito isso pá. E graças a Deus então, as coisas correram bem. Hoje valem a pena, e sou feliz acima de tudo acho que é isso
Miguel: Isso é o mais importante. Até porque o futebol traz-nos felicidade traz-nos mágoas. No meu caso eu acho que o futebol por participar no desporto desde novo desde os 5, 6 anos e estar presente estar ligado à competição durante essa fase trouxe-me muita ambição, não só no desporto mas também na vida porque obviamente nós competimos todos os fins de semana nos torneios, etc. e queremos sempre ganhar. Queremos sempre, porque ganhar é que nos traz essa felicidade e alegria de festejarmos com os amigos.
Tu sentes que o futebol te trouxe não só as memórias e as amizades que trouxeste mas para a tua pessoa mesmo a extrafutebol trouxe assim alguma ferramenta que tu consideres mais importante?
João L: Eu acho que nós é um multitask, sabes? Eu acho que nós somos um canivete suíço que sabemos também para além do que é competir no desporto, depois tudo aquilo são relações que se fazem e que têm de ser resolvidas, ok? E eu acho que nós somos de resolução fácil, ok?
Por isso, a capacidade de tu lidares em grupo, falares em grupo, de tu saberes reagir a uma situação mais adversa. Porque há problemas no desporto que depois não têm transferência direta, digamos, para a nossa vida pessoal. Mas o problema é que a vida pessoal tem dias menos bons.
Miguel: Claro.
João L: E tu de alguma forma dizes, ah, quando eu perdi o jogo eu estava bem triste e depois eu tive que me levantar e reerguer. Na nossa vida pessoal acaba por acontecer o mesmo. Tu tens um dia mau, acontecem coisas más, infelizmente, na vida. E tu tens de ter essa capacidade. Eu sei que aqui falar é fácil, porque todos nós às vezes demoramos um dia, dois dias, três dias a nos restabelecer, do que quer que seja. Mas eu acho que aquilo que a competição te dá é muitas ferramentas, digamos, para resolver, não é tudo, mas a maior parte das situações, sabes? Porque tu ficas preparado para muita coisa.
E então eu digo sempre, o desporto, e eu tenho um afilhado agora, eu digo sempre, ah pá, eu não quero que ele seja jogador. E eu mesmo se eu tiver um filho, eu já disse à Xana, eu não quero que ele seja jogador. Para começar, eu não quero que ele jogue futebol, eu queria que ele jogasse futsal, que é a minha maior paixão, mas que seja, e eu digo, se ele chegar à minha beira e me disser, opá eu quero ir para o basquete. Opá é para o basquete que ele vai, não tens que querer que ele jogue aquilo só porque tu gostas daquilo. Percebes? Tu não tens... É óbvio que de alguma forma tu queres sempre guiar as pessoas à tua volta. Eu quis guiar o meu irmão, eu quis guiar a minha irmã, porque isso é educar. É tu dares, tipo, olha, deverias fazer isto, mas se ela não quiser, e se ela não quiser, opá, a decisão é deles.
Miguel: E essa mentalidade que eu acho que também falta um bocado, porque agora tu vês os pais, e nós vemos às vezes jogos de miúdos de 8, 9 anos, e vemos os pais na bancada furiosos com o que se está a passar dentro de campo. A insultar toda a gente, porque parece que são eles que estão lá dentro são eles que estão a viver aquilo, em vez de deixarem os miúdos viver e às vezes até um miúdo pode não querer estar ali no desporto ou pode não querer dar a prática ao futebol e parece que cada vez mais os pais, por verem o sucesso e o dinheiro que está envolvido no desporto,
João L: Isso!
Miguel: Querem que as pessoas estejam lá presentes, e às vezes, obviamente, contra a vontade dos médicos.
João L: Eu acompanho de perto os jogos, neste caso, e a evolução do Gonçalo, e a primeira coisa que eu digo, e felizmente, e ele tem bons exemplos, a mãe não se mete em nada, o pai também não, a Xana também não, mas elas tomam dores, elas ficam chateadas quando ele joga menos tempo, quando ele falha alguma coisa, mas faz parte disso.
Eu quando o recebo após um jogo a primeira coisa que eu lhe pergunto, para começar é desvalorizar o jogo, e eu quando digo desvalorizar o jogo é o resultado, se fez gol, se não fez porque eu digo sempre, eu não era um jogador de golos eu era um jogador de passar. Eu preferia jogar bem a marcar gol, ok mas eu dizia, eu digo-lhe, Gonçalo, gostaste do jogo? Gostou do jogo, tipo, viste aquele menino, já não via aquele menino há muito tempo?
Exatamente, porque eu acho que é muito isso, então agora tocaste uma coisa que eu às vezes até prefiro nem falar muito, é tipo, eu às vezes sinto-me desconfortável pela vergonha alheia, sabes?
Miguel: É isso.
João L: Que é, eu vou ver o jogo do Gonçalo, e eu a muitos torneios e às vezes é normal, estás a jogar um campo aqui outro campo ali, eu vejo a expressão certa é figuras, do das pessoas. E eu quando é assim eu próprio ia, tipo, eu tento sair de lá da beira, meto-me mais ao lado, vejo o jogo muito tranquilo. São crianças deixem eles fazerem o que eles quiserem.
Miguel: Deixem-nos divertir.
João L: Deixem-nos ser felizes pelo amor de Deus.
Miguel: Mas depois também tens o outro, o outro lado, o outro espectro. Neste caso que onde já isso já não acontece tanto que é por exemplo no atletismo. Já não vejo dessas acontecer, acho que é um desporto onde se as pessoas também se controlam mais e expressam o apoio que têm às pessoas de uma forma diferente, com mais paixão, e tu trabalhas com pessoas no atletismo e que agora estão a participar ou estão a tentar entrar outra vez nos Jogos Olímpicos, pela terceira vez que é a Salomé Rocha. Como é que é trabalhar nesse ramo e fugir um bocadinho ao futebol, trabalhar nesse ramo, ainda por cima com uma atleta olímpica?
João L: A primeira coisa que eu tenho de dizer é, e isto vai para os meus jogadores e eles têm que ouvir isto, é o futebol treina muito pouco eles acham que treinam em muito de imenso, que é muito duro. Esqueçam isso tipo, o futebol é uma modalidade cada vez mais exigente, ok? E eu consigo ver isso pelos dados de GPS pela intensidade que o jogo hoje requer, mas eu digo sempre. A Salomé numa fase de competição ou pré-competição corre 200 e alguns quilómetros por semana.
Miguel: Imagina, 200 quilómetros por semana.
João L: No meio disto tudo, há o reforço muscular que temos de fazer, há uma série de tratamentos que ela tem que fazer, ela vive para competir, ok? Eu digo isto, ela acorda de manhã, ela vai correr, ela vai almoçar, ela deita-se numa tenda, ela dorme dentro de uma tenda, dentro de casa, para simular altitude, ok? Para recuperar mais rápido e para estar mais predisposta caso naquele dia esteja um bocadinho mais de humidade ou mais abafado.
Miguel: Isso é uma mentalidade incrível.
João L: É algo que eu às vezes digo a um jogador, opá, mete as pernas um bocadinho ao alto por causa do retorno venoso, vai-te ajudar, trabalha mais um bocado a flexibilidade. Ah, percebe? É tipo, a vida da Salomé, ok, é para isto, tipo, a minha maior, digamos, vitória é eu conseguir trabalhar ao nível deste tipo de atletas. Porque ela, e eles muitas das vezes, ela corre em frente ao nosso estádio, e eles olham e dizem, meu, ela vai rápido, é o treino de recuperação dela.
Miguel: E eles, ui.
João L: E eles, ui, é a recuperação, aquilo. E depois, tu falaste uma coisa muito engraçada, que era essa, que eu também te queria muito dizer. A Salomé tem grupos de treino onde existem pessoas que só vão para treinar com ela, não competem. Que é quase como a chamada lebre, que vai para marcar tempos, para ajudar a marcar o pace.
Ela não pode correr a ouvir nada, ela tem que correr a sofrer, ela tem que perceber se é para correr hoje a 4 a 3.50, a 3.40, a 3.20 ela conhece o corpo dela a esse ponto, ok? E ela tem pessoas que partilham o sonho dela sem estarem dentro do sonho dela porque nós no futebol quando tu lanças o onze tu tens sete ou nove rapazes que estão doentes e não estarem a jogar e é doloroso, mas ainda podem vir a entrar, mas tens outros que ficam de fora que ainda é pior, mas isso é a seleção, infelizmente. Mas ela, ela treina com pessoas que ela tem a dinâmica dela e vão treinar com ela só para marcarem o passo com ela. É uma coisa que tu dizes, ah mas eles estão-se a sacrificar por ela. Exatamente.
Miguel: Para ela conseguir chegar.
João L: Para ela conseguir já ter as participações e agora vai ter as outras duas tentativas para ir. E é óbvio, quando me ouvir a dizer isto, ela mesmo que não consiga, ela tem que estar feliz, porque ela dá tudo.
Miguel: Isso é o mais importante.
João L: Percebes? Ela vai chegar ao fim, claro que lhe vai doer. Passado 3 a 4 meses ela vai tirar a pressão de cima dos ombros dela e vai dizer, opá, eu dei tudo, eu fiz tudo.
Miguel: E vou tentar outra vez daqui a 4 anos.
João L: Exato. E muitas das vezes, é aquilo que é engraçado, que é, os jogadores de futebol querem ser mais fortes e mais rápidos daqui a um mês, percebes. E o Bolt tem aquela mítica frase que eu trabalhei quatro anos para baixar um segundo.
Miguel: Exatamente.
João L: Um segundo.
Miguel: É uma loucura. Exatamente. E há sempre competição, todas as semanas no futebol, enquanto que eles preparam-se para competições que acontecem?
João L: Para provas em específico, para chegarem no platô deles, digamos, que é dois meses, três meses. Por exemplo, nós agora estamos a trabalhar num bloco a cinco semanas, porque ela vai no final de Abril, percebes? Então o que é que acontece? Tu planeias tudo ao detalhe a cinco semanas, não é semana a semana. É óbvio que é doloroso, porque no futebol tu jogas, mas tu perdes e já tens uma hipótese logo a seguir. Lá não, tu olhas a uma forma mais macro, maior e a partir daí tu defines, opá, aqui vai ser o meu momento de me testar, de ver como é que estou e depois aí percebes o que é que tens que fazer.
Miguel: E tu sentes-te mais realizado a trabalhar nessa vertente do atletismo ou preferes sempre o futebol?
João L: Eu só tenho ainda… Quando digo ainda um sonho era eu adorava que a Salomé fosse enquanto eu. Porque eu entrei para trabalhar com ela Já ela após um ciclo olímpico. Eu adorava que ela fosse para eu poder ir. Porque esse é um dos meus maiores objetivos porque não há objetivo maior do que tu representares o teu país.
Miguel: Não.
João L: Ópa não. Liga dos Campeões, Intercontinental, do outro lado do mar. Pode haver tudo, mas tu saberes que estás a representar o teu país é o teu expoente máximo. Então, eu digo sempre, o meu, depois de chegar à Primeira Liga, é claramente participar em algo por Portugal, nos Jogos Olímpicos seria incrível e depois eu não minto.
Eu há dias falei isto no clube, eu durava a trabalhar no ciclismo. Porque eu queria ver, há toda a gente diz, ah eles dopam-se todos e tudo muito mais tá, metam-se lá em cima da bicicleta e vão fazer o que eles fazem, depois vocês vêem.
Miguel: Andar numa bicicleta durante 200 km e 1000 km durante uma semana.
João L: Exatamente. E depois, ao final da prova, ainda tens que ir rodar na bicicleta para remover já o lactato que está no corpo, que é para no dia a seguir voltares a subir.
Miguel: A subir o Everest.
João L: Exato, exato. Pá, então, mas infelizmente eu considero que vai ser muito difícil porque eu não tenho experiência na área, mas eu já disse, no dia em que eu tiver capacidade temporária. Por algum motivo, fiquei sem trabalhar uma época. Eu vou-me auto-propor a uma equipa e eu vou querer conhecer a realidade deles.
Miguel: Para aprender um bocado também.
João L: Sim, e depois é muito isto. Tu gostas do futebol e dos esportes coletivos, depois vês que o desporto individual é incrível, o do Carlos da Salomé, mesmo ela tendo prova por equipas. Mas depois, eu acho que quem é da condição física como eu, ou da preparação física como eu, tem muitos ídolos que de alguma forma não estão representados na nossa sociedade diária, mas que são gajos… o gajo é incrível, tipo um país como Portugal, pequeninho e tem já no UCI que é a divisão máxima se calhar 20 ciclistas. Podem só ser de topo 2, 3, mas o resto estão lá o pessoal não tem noção do que é difícil ser estar numa categoria mundial. É muito difícil tu estás numa categoria nacional, representas alguém num campeonato mundial. É muito difícil. Tu estás numa categoria nacional, representas alguém num campeonato nacional, é muito difícil. Muito mais representar num mundial qualquer que seja a modalidade.
Miguel: E ainda por cima, num país onde...
João L: O dinheiro é canalizado.
Miguel: O dinheiro é canalizado pouco para o desporto.
João L: Para o nosso desporto.
Miguel: E o que é para o desporto é quase todo para o futebol.
João L: Exatamente. Mas depois, quando chegam os olímpicos, querem ligar a televisão e exigir que o gajo ganhe
Miguel: Ganhe a modalidade. Isso é muito difícil e como é que lá está e eles precisam de muita motivação. E como é que tu lhes consegues passar essa motivação, não só à Salomé mas também aos jogadores, não só a nível físico estarem bem e comprometidos com o teu plano, mas também com o programa de treino e alimentação.
João L: Ok, olha, hoje de manhã eu estava a dizer isso a um jogador, que era, eu disse-lhe, olha, eu não vou contar as repetições que tu vais fazer, porque já chega uma fase em que eu me preocupo despreocupando, e isto é o quê? Se eu lhe digo que são 10, e ele tem que fazer as 10, se eu lhe digo que faz 20, e sabes porquê? Ele não me está a roubar a mim.
Miguel: Está-se a roubar ele próprio.
João L: Exatamente. Eu digo sempre, isto basicamente, vocês estão sempre a ser testados semanalmente, ok? Depois, claro, há testes de velocidade, como nós fizemos hoje, há avaliação de composição corporal, de salto, uma série de coisas onde tu vês, ah, o gajo está predisposto ou não, melhorou ou não. Pá, mas depois também existem muitas condicionantes, o atleta está num pico de forma, se não está, se joga, se não joga, isso tem. Mas acima de tudo eu tento-lhes sempre mostrar que eles estão a lutar pela vida deles, pelo sonho deles, e sabes que o meu sonho não é o mesmo que, por exemplo, o Alex, que é americano. Ok, ele é mexicano. Ele diz que é mexicano, mas é americano para mim. E eu digo sempre, pá, vocês têm de encontrar formas de realizarem os vossos sonhos. E vocês têm de ter sonhos para cima, sempre. Grandes. Pá, dói muito quando um gajo pensa, eu quero aquilo, mas está a luz.
Miguel: Está a luz e vou ter que trabalhar muito para chegar lá.
João L: Muito. Pá, mas não tem mal. Porque tu trabalhando para aqui, mesmo que não chegas ali, vais chegar aqui.
Miguel: Vais chegar ali.
João L: Exatamente. E então, de alguma forma, tu já acabas por conquistar ainda mais qualquer coisa. E então, eu acho que, mais do que tudo, é não nos tratar só como atletas. Ok?
E eu quando digo isto é... É super importante. Eu quando digo isto, nós, que fazemos parte de um clube de futebol, saber se ele dorme bem. Mas não é só se ele dorme bem, é se ele tem filho e se o filho o deixa dormir. Se a mulher está cá e está só cá a mulher e se eles são felizes se precisam de ajuda em alguma coisa em casa. Porque é super difícil estar a mil, dois mil, três mil quilómetros de casa, às vezes não se domina a barreira, a linguagem.
Miguel: Exato.
João L: Pá, então o que é que acontece? Mais que tudo, a primeira coisa que tens de fazer é, tens de mostrar disponível para ele. E depois a partir daí dizes, pronto, ok, estás a ver, tu sacrificas tanto, estás longe da tua família, às vezes só uma vez por ano, duas vezes. Tenta, arranja as forças, e eu vou ser o gajo que vou te dar um empurrãozinho, eu, os físios, os diretores. Pá, porque o nosso trabalho é esse, nós precisamos deles, tipo, eu digo sempre, não sou eu que vou meter a bola dentro da baliza, e eles próprios, não precisam meter a bola dentro da baliza, mas eles precisam conquistar pequenas coisas, e isso é o suor deles, é o quê?
É mais uma vez, eles perceberem que todos os dias têm de arranjar forma. Há dias menos bons e dias menos maus, e é aí que eu também digo que eu sou importante, que é, eu tenho de perceber qual é o momento em que está chateado com a mulher
está fudido com alguma coisa, e eu aí, o que é que eu faço? Muitas das vezes, eles têm pré-treino e pós-treino, no pós-treino, o gajo chega à minha beira e diz-me, está f*dido com alguma coisa.
Miguel: Claro.
João L: E aí, o que é que eu faço? Meu, muitas das vezes eles tem treino e pós treino. No pós treino o gajo chega à minha beira e diz-me “meu preciso ir para casa, preciso de alguma coisa”, amigo, é para mim, é muito mais importante ele ir para casa.
Miguel: E sentir-se feliz.
João L: Porque depois do dia a seguir, sabe o que é que é? Eu dei-lhe a mão, no dia que eu chegar à beira deles. Eu, pá, hoje eu preciso mesmo que tu lhes dizes a vida, ele vai dar a vida,
Miguel: Exato.
João L: Porque ele percebeu que de alguma forma, tu estás ali para ele, sabes? Por isso é que a minha posição é, não se trata de ser ingrato, eu trabalho de segunda a domingo, as pessoas não sabem disto, as pessoas acham que, ah, o jogo é domingo, e o pessoal folga a segunda e a terça, mas esqueçam isso, nós não folgamos, é segunda a domingo, todo o dia lá, porquê? Porque eu tenho de pensar no gajo que joga, mas eu tenho de pensar no gajo que não joga, e o gajo que não joga, no dia a seguir está lixado, porque não jogou. E diz, oh meu, vai estar alguém no estádio, vai, e nós temos de ir lá, abrir a portinha, dar treino para o gajo, veja, sabes porquê? Porque, mais uma vez, hoje ele não está aqui, mas amanhã pode ser ele que está a jogar, e não adianta eu só querer saber dos onze iniciais, e não é me desprezar, é tipo, não dar tanto relé para os outros, e foi das primeiras coisas que eu percebi.
Tu vais-te lembrar do atleta em questão. Eu acho que ele não sabe disto, e são aquelas coisas que eu guardo para sempre. Tu lembras do nosso Zé Luís, nosso lateral esquerdo?
Miguel: O Zé Leão.
João L: O Zé Leão, exatamente, que era um gajo completamente, trabalhador, tu dizias-lhe, oh Zé, é para correr duzentas vezes contra a parede. Amigo, e ele ia duzentas vezes contra a parede, e nem sequer questionava, vinha de lá todo lixado, com a cara, mas ia,
Miguel: Já corria
João L: Já fez.
Miguel: É preciso fazer mais alguma coisa?
João L: E houve ali uma fase em que ele não estava a jogar, e a minha maior preocupação, pá. Dá-lhe conforto, e eu quando digo conforto, é tipo, bem Zé, faz, fizeste bem, fizeste bem. E ele teve uma coisa que ele disse, oh mister, agora eu percebo uma coisa, agora que eu sou suplente. Você fala muito mais com os suplentes, do que com os titulares. Eu disse claro, caramba.
Miguel: São vocês que precisam mais de carinho.
João L: Os outros, tão felizes, estão a jogar. Tipo, eu não sei se amanhã vais estar tu a jogar, mas o que é que acontece, eu não posso é te deixar cair, e o que é que eu tenho que fazer? Oh, dar-te alento, e eu quando digo alento, é, se tiveste mal, eu vou dizer que tiveste mal, mas tu fazes as coisas bem. Mas por algum motivo o treinador escolheu o outro para jogar, porque achou por bem, eu tenho, e o Zé tem essas palavras para mim, oh mister, agora eu percebo que você, revela-se muito mais, com quem não joga. E eu disse-lhe, claro Zé, tem que o fazer, porque parte, mais uma vez, é sensibilidade. Tipo, eu não preciso dizer, o gajo que está a fazer 20 golos, tu achas que eu preciso que eu lhe dê alguma coisa?
Miguel: De dizeres alguma coisa.
João L: Repara bem. O gajo está feliz, as coisas correm-lhe bem, claro, pontualmente digo, olha, fizeste bem isto, fizeste bem isto, pá, mas, puxar, falar, estar perto, tem de ser desses, tem de ser desses.
Miguel: E agora também, para finalizar, tu tens algum conselho, para quem está a estudar, ou quem quer seguir esta área, que tu como amigo, não só como profissional, lhe darias?
João L: Ok, principalmente na nossa área, ok? Eu falei-te que posso desempenhar 3, 4 funções, num clube. E todas elas com nomes diferentes, e eu acho que é mesmo isso, as ciências do desporto, que eu estudei no Porto, na FADEUP, elas são muito abrangentes. É muito difícil, muitas das vezes, numa fase inicial, tu perceberes exatamente o que queres ser. Então, não achem que vão sair da faculdade a ser expertos e a dominar tudo, porque não vão, ok?
Eu próprio, ainda hoje estudo, hoje de manhã estava a falar com o Suor e com o Pedro, um espanhol, e eles estavam a me perguntar alguma coisa, e eles disseram, ah, tu sabes muitas coisas, e eu vejo-te ainda a ler muitas coisas. Eu disse, claro, para começar, a ciência está sempre, sempre a mudar. É como tudo, tipo, nada é, parou no tempo, então eu tenho de andar sempre, sempre à procura. E eu acho que parte daí, investimento pessoal, e eu quando digo investimento pessoal, não é comprem as melhores formações, tentem ver livros, porque acima de tudo eu aprendi muito com livros. Que lá está, tive a felicidade do professor José Augusto, que me disse, ah, olhem, se vocês quiserem perceber de velocidade, os europeus ouçam os italianos. E o que é que eu fiz?
Ah, os italianos, quem é que escreve literatura em Itália, e tem em português, pimba, comprei. Força, são os russos desde sempre. Opa, então é Berko Chansky, ou Oscar. Percebes, e eu aprendi sozinho. O meu irmão agora está a iniciar, e a coisa que eu mais lhe digo é, oh João, é óbvio que tu vais ter uma facilidade que eu nunca tive, porque a minha família não era disto, ok? E eu a ele, que eu digo sempre, olha, vê, ou vê este gajo, vê este, vê este.
Miguel: Já o ajudas.
João L: Já o ajudo, e eu não tive isso, mas eu lá está, eu também tive a felicidade de ter esses professores, que à medida que eles iam falando, eu percebi, ah, não, caí, o gajo diz isto, vou ler este, vou ler este, vou ler este. E pronto, pá, foi um conjunto de reunir as matérias todas ali, e perceber, e ainda hoje eu escrevo. Os meus amigos brincam, ah, escreveste um e-book de 10 páginas. Está, escrevam alguma coisa de 10 páginas.
Miguel: Exato.
João L: Perceber o que é que tem de escrever 10 páginas, arranjar 10 temas, e nesses 10 temas, tentar arranjar formas simples que toda a gente perceba, é difícil, muito difícil. E hoje, na minha, eu tenho duas mochilas, que ando sempre, há uma das mochilas que eu tenho lá, se calhar, 100 páginas escritas à mão, ok? Que é para quê? Possivelmente, ao longo do tempo, eu ir passando aquilo, de coisas que eu quero, deixar, para que outros possam ver, experiências, sabes? Porque eu acho que é importante, não adianta eu saber tudo, que não é saber tudo, que ninguém sabe tudo, mas não adianta eu saber muito…
Miguel: Saber a quem passar.
João L: Exato, percebes? A coisa, eu digo, eu digo sempre, a coisa que eu mais gosto, é quando, de alguma forma, vem alguém, pá, ah, olha, disseram-me, por algum motivo, que tu eras bom nesta área, consegues-me ajudar? Consegues, o que é que eu devo procurar? O que é que eu devo ler? Pá, e eu sem problema algum, olha, eu li isto, isto, isto, isto, isto. É investir, amigo. Como tu o fazes. Todos nós.
Miguel: É exato. Completa-me esta frase, não sei se vais conseguir. Futebol ou atletismo?
João L: Ah, vou-te dizer futebol.
Miguel: Ok.
João L: Mas duro, duro.
Miguel: Futebol ou futsal?
João L: Ah, duro. Tá. Não, não, não. Futsal.
Miguel: Futsal?
João L: Sabes porquê? Eu vou-te explicar. Eu, muitas das vezes, não consigo ver um jogo de futebol, porque, infelizmente, às vezes, o jogo é chato, que acaba num 0-0, e o futsal, por exemplo, está agora, a final eight, a ser feito, e está a jogar equipas que ninguém conhece em Portugal, digamos, que a maior parte das pessoas, hoje em dia, vão acabar por conhecer, que é o Dínamo Sanjoanense, Zêzere, pá, equipas de terras, províncias, digamos mesmo, que representam províncias, que conseguem, tipo, não combater o Sporting ou o Benfica, mas conseguem, tipo,
Miguel: Ir lá.
João L: Ir lá perto, percebes? E aí eu consigo ver tudo. Ontem à noite eu estava a ver um Belenenses-Sporting, percebes? E quis ver, e agora vou continuar a acompanhar, porque o jogo é mais bonito.
Miguel: E que frases é que dirias agora, se estivesse aqui, ou estivesse numa chamada, ou se estivesse aqui o teu melhor amigo à frente, o que é que tu lhe dirias? Qualquer coisa.
João L: Ah, o meu melhor amigo é o meu irmão, ok? Primeiro, eu nunca quis que o meu irmão fizesse a mesma coisa que eu, sabes? Porque de alguma forma tu tens aquela leve sensação. Os meus pais dizem-me, ah, o João quer ser como tu. E eu não quero que ele seja como eu. Eu quero que ele faça as coisas bem, o que quer que seja. Mas a palavra que eu mais vezes, que eu tenho, é que eu amo. Porque é... A Xana está-me sempre a dizer, ah, um dia que tu tenhas um filho, tu vais ver. Ou eu quero mesmo muito ter um filho, sabes para quem? Que é para eliminar este amor que eu tenho pelo meu irmão e pela minha irmã. Porque, infelizmente, eu sinto que muitas das vezes é irracional. Sabe? Tipo, eu protejo... Eles podem chegar aqui, e entram aqui e partem-te o teto. E eu digo, opa, ele teve alguma razão para partir o teto. Percebes? Exato. Porque eu já... Eu muitas das vezes, tipo, o meu irmão fez uma coisa e eu defendo-o. E aí que eu te digo, é um amor irracional, é estúpido. E eu, a única palavra que eu tenho para ele, é tipo, é um sentimento. É que gosto dele, eu amo mesmo o gajo.
Miguel: João, obrigado por teres aceito o convite mais uma vez.
João L: Ah, feliz. Espero não ter sido extensa.
Miguel: E pela sinceridade, é uma conversa assim, sem dúvida que eu não vou esquecer, até pela amizade que temos. E quanto a vocês, preparem-se para outro episódio Inspired by Legends.
Garanto-vos que vai ser tão bom ou melhor do que este. Grande abraço.
A trajetória de João Luís Faria Azevedo é um testemunho inspirador de como a paixão, a persistência e a vontade de aprender ajudam na construção de uma carreira de sucesso. A sua experiência vai para além da formação sólida em Ciências do Desporto, João tem-se destacado no desporto nacional e internacional.
Ao ouvir o podcast, podem esperar uma conversa emocionante e descobrir as motivações do João Luís, como superou os obstáculos e como continua na busca pela excelência. O seu apoio incondicional aos jogadores demonstra o seu caráter, dedicação e paixão pelo desporto.
Nunca é tarde para sonhar.