Haverá limites no humor? Com o humorista Luís Vieira aprendemos que a vida é melhor ser vivida a rir do que a lutar contra o inevitável, a morte. Devemos usar todas as situações que nos acontecem ao longo da vida para rir, e embora seja preciso chorar às vezes, é necessária muita força mental para fazer uma piada quando estamos mal.
Luís Vieira é um humorista vimaranense conhecido por abordar assuntos atuais e polémicos com humor perspicaz. Atualmente, é apresentador do podcast oficial do Vitória Sport Club, o “Dezanove22”, onde entrevista jogadores e utiliza o seu humor para criar um ambiente descontraído, mostrando também o seu lado de adepto do Vitória Sport Club. Participou no “Levanta-te e Ri", no “PI100Pé” e em diversos espetáculos, tendo atuado com humoristas como Fernando Rocha, Alexandre Santos e Eduardo Madeira. O humorista também expressa o desejo de atuar com Bruno Nogueira.
Com uma carreira marcada pela perseverança e paixão pelo humor, Luís continua a deixar a sua marca no humor português, mostrando a sua capacidade de transformar momentos do quotidiano em risadas.
Inspired by Legends com Luís Vieira: O humor no futebol português
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Miguel: Se acreditas em abraços, se tens orgulho de onde vens e se achas que uma equipa é muito mais do que cores, então este podcast é para ti. O meu nome é Miguel Soares, sou fundador da BYMS e criei este podcast Inspired by Legends para encontrar e celebrar as lendas de hoje em dia.
O meu convidado hoje é o Luís Vieira, humorista vimaranense e também vitoriano, que é uma verdadeira inspiração para mim e para muitas mais pessoas. Luís, tudo bem contigo?
Luís: Miguel, tudo bem? Antes de mais, sinto que exageraste, começaste a falar em lendas e depois apresentaste-me.
Miguel: Não, por amor de Deus, para mim és uma lenda e uma inspiração.
Luís: Fico-te muito grato e dou-te já os parabéns, porque já estivemos aqui a falar um bocadinho. Eu já te conhecia, já conhecia a marca e digo-te agora, mais publicamente, sem ser em off, que dou-te os meus parabéns também.
Agradecer-te o convite e te dar os parabéns também pela marca, porque é muito importante pessoas da tua idade.
Porque eu já sou velho, já tenho para aí 70 anos, mas pessoas da tua idade terem a cabeça no sítio e a tua perseverança também, que é muito importante. E olha, estás-lhe a dar forte, que é o que interessa.
Miguel: Fico muito feliz, fico muito feliz por ouvir isso.
Luís: E é motivo de orgulho também.
Miguel: Pessoas que eu ouço e que acompanho e que tenho como exemplo, porque é difícil. Sei que também é difícil expor-nos às vezes a nossa vida pessoal e tudo, e ouvimos comentários que às vezes não são os melhores, e sei que isso não é fácil.
E uma pessoa como tu, que já alcançou coisas que para mim são mesmo verdadeiramente impressionantes. É de facto uma honra ter-te aqui.
Luís: Muito obrigado.
Miguel: E para quem ainda não sabe, o Luís usa o humor nas redes sociais para falar de vários temas, alguns deles polémicos, sem tabus. Já participou no Levanta-te e Ri, no PI100Pé, é atualmente apresentador do podcast oficial de Vitória Sport Club e não Vitória de Guimarães.
Luís: Exatamente.
Miguel: Podcast Dezanove22 e conta com vários espetáculos espalhados pelo país. O que é que eu te vou perguntar?
A primeira coisa, quem foi, no seguimento da conversa que nós tivemos, quem foi a pessoa que mais te inspirou até à atualidade? Não precisa de ser ninguém famoso, quem é que achas que foi aquela pessoa que, exemplo máximo?
Luís: Pá, exemplo máximo, lá está, eu gosto, isto vai soar a politicamente correto, atenção, mas eu digo sempre isto e falo sempre nele. Pelo percurso, digo sempre, ele sabe, estou a falar de Fernando Rocha, não deixa de ser o meu patrão, não é? Mas estou na agência dele. Mas falo dele porquê?
Opa, porque digo sempre, e as pessoas sabem, opá, as pessoas sabem que me conhecem, que eu não sou o maior fã do tipo de humor e, agora, anedotas para mim, esquece, o homem, opá, ninguém lhe tira isso, esquece.
Pá, mas se eu te, sei lá, se eu te for a nomear, tipo, gajos que eu gosto mesmo assim do tipo de humor ou que se assemelham mais ao meu, sei lá, vou para um Bruno Nogueira, eu gosto mais desse tipo de humor. Sim.
Agora, a nível de trabalho, de inspiração, opá, tenho que pôr o Fernando Rocha porque não é fácil. Que, pá, eu, eu, este discurso é inevitável porque é a realidade.
Tu, tu se estás no norte e se queres realmente estar aqui e fazer o teu caminho e ter sucesso, pá, é mais complicado.
E é graças a pessoas como o Fernando Rocha e outros, atenção, e outros, que pessoas como eu conseguem andar aí e, se calhar, até ir a Levanta-te e Ri ou ir a outros tipos de programas ou o PI100Pé, por exemplo, foi uma coisa, opá, que ele criou e que dá espaço a muito humoristas de fazerem aquilo que mais gostam, com a maior das liberdades, também é importante.
Miguel: Opá isso é, isso é, isso é incrível. Então, tu, no Fernando Rocha, que características dele é que achas que, que o tornam tão especial para ti e que tornam essa inspiração?
Luís: É o trabalho, o trabalho do homem é, é surreal. Ele, imagina, ele está a fazer cem, imagina, pá, eu falo por mim, imagina, estou a fazer cem, está bom. Cem já é bom. Ele não, ele está a fazer cem, mas já quer duzentos, trezentos, quatrocentos e os quinhentos, percebes?
E essa mentalidade que ele nos passa a nós, pessoal que está a dar aqui este espaço. Os primeiros passos, os primeiros passos, que é quase isso, comparado ainda por cima à carreira dele, são mesmo só os primeiros passos.
E é isso que nos, que nos motiva, pá, e é assim que ele nos motiva a nós, com essa força que é, que tem muito trabalho, muito trabalho mesmo.
Miguel: Exato, eu também adoro, adoro, adoro vê-lo e, pá, e conto algumas piadas à minha família também, pá, é, também é uma das referências a nível nacional, sem dúvida. Achas que foi ele que te introduziu no humor? E por causa dele que começaste a ter essa paixãozinha pelo humor, a nível de bichinho?
Luís: Sim, a nível de bichinho, pá, eu dou este exemplo, ou falo dele neste caso, não sei se conhece Tom Cavalcante, opa, quase ninguém conhece.
Miguel: Não conheço.
Luís: Só a geração mais antiga, que lá tenho para aí 75 anos. Não, mas havia um programa brasileiro, Sai de Baixo, que passava muitas vezes aqui, passava em Portugal, basicamente. E eu pá, eu adorava, adorava o Tom Cavalcante, que era, fazia uma personagem que era o Ribamar.
Então eu adorava aquilo, sei lá, ele imitava as pessoas e brincava e depois aquilo era, imagina, basicamente para te explicar o conceito, daquilo era uma peça de teatro mais cómica em direto, tinha plateia, quer dizer, não era em direto, era ao vivo, assim é que é, disse mal. Mas eu adorava, adorava aquilo e sinto que foi um bocado esse Tom Cavalcante começou a disputar assim um bocado o bichinho.
Depois claro que comecei a ter outras referências, começou a aparecer no Volante e Thierry, depois vinha o Fernando Rocha, vinha o Hugo Sousa, vinha o Ricardo Araújo Pereira, vinha muita gente que depois também começou a ser uma influência para mim, mas aquela que se calhar despertou ali o bichinho acho que foi mesmo o Tom Cavalcante.
Miguel: Foi engraçado, não estava nada à espera, não estava nada à espera da sua resposta. Até porque eu acredito que toda a gente tem um lado engraçado, mas obviamente poucas pessoas conseguem tornar esse lado engraçado.
Luís: Mais profissional.
Miguel: Mais profissional, profissionalmente. Sim. E quando é que sentiste isso? Quando é que sentiste que esse teu lado engraçado, esse humor, querias fazer disso profissão, querias tornar isso algo mais sério e não ser engraçado para os amigos, etc?
Luís: Isso foi meio natural, foi meio que, pá, eu já contei esta história e é engraçado porque eu quando comecei a fazer este tipo de coisa, pá, sei lá. O stand-up que não era um stand-up puro, porque comecei a ir às listas das associações de estudante, comecei, e é engraçado que o primeiro convite que eu recebi foi de um, que é agora um dos meus maiores amigos, o Paulo.
Ele, pá, não sei o quê, estamos aqui a falar e falou-se no teu nome, eu fui, fomos, o pessoal falou no meu nome, mano, que fixe. E ele na altura até disse, ó, pá, e cachê achei, e eu fui. Eu não sabia o que é que havia de tudo. E eu na altura, eu na altura até achei que estava a exagerar, pá, sei lá, 50 euros.
E ele, pá, está fechado, ainda por cima, na altura havia as agências e tal, que patrocinavam essas coisas todas. E assim foi, eu fui e tal, não sei o quê. Pá, e comecei a gostar daquilo, ó, foste, é fixe, mano, fazer rir as pessoas assim, tipo, ó, pá, claro que não era, não é stand-up puro, ó, pá. Porque estás a falar e está, tipo, um gajo a tocar violino no neutralista, e vai fazer um barulho, e o pessoal a mandar-te rebuçados para a testa, e não sei o quê, pá, mas olha.
Mas depois também, nesse carácter, deu-me, e acredito nisso, que deu-me também outros mecanismos para depois começar a chegar aos auditórios e às atuações mais a sério, digamos assim.
Miguel: Sim, sim, deu-te uma estalacazita já, já, quando eras mais novo. Ai, viu, viu. Fala-se que… Um dos teus ídolos também na comédia é o Fernando Rocha, tu participaste no Levanta-te e Ri, e no PI100Pé, onde atuaste junto de nomes icónicos na comédia nacional.
Luís: Sim.
Miguel: Como é que foi essa experiência?
Luís: Opa, é uma coisa... Lá está, às vezes, tu no dia, eu se calhar nem fico muito ciente daquilo que me está a acontecer, só que às vezes, depois de repente, imagina, por exemplo, no caso do PI100Pé, por exemplo, vou-te explicar o que é esse sentimento.
Miguel: Claro, claro.
Luís: Por exemplo, no caso do PI100Pé... O PI100Pé, ali na Via Rápida, tinha, aqui em Guimarães, tinha um cartaz gigante, que estava o Rocha, e eu, o Dagu, e o Fernando Madeira. Pá, eu passava lá, tipo, eu fogo... Pá, um gajo fica assim meio…
Miguel: Meio abananado.
Luís: Sei lá, meio fica assim meio abananado, tipo, afinal, estou ali, sei lá. Pá, depois chega o dia da atuação, estás ali, tenso, tenso, muito nervoso, muito… Eu falo para mim, atenção, muito nervoso, pá, o peso da responsabilidade, aí, estou à beira deles, e agora, tipo, um gajo tem que ter piado e tal, e dizia...
Miguel: Exato.
Luís: Opá, mas é uma coisa engraçadissimas porque depois lá está, tu estás em casa, normal, e, sei lá, é só um burro qualquer que está em casa, e depois, de repente, já estás ali naqueles palcos, opá, e é fixe. E é bom sentir-me nos importantes, não é?
Miguel: Exato, porque estás ali com centenas de pessoas que estão com uma expectativa para ti, para o teu trabalho, que estão ali com a expectativa de se rirem, não é? E, às vezes, nem sempre é fácil fazer uma pessoa rir.
Luís: É muito difícil.
Miguel: Até porque uma pessoa pode estar num dia mau, e é complicado.
Luís: Sim.
Miguel: O que eu te queria perguntar também... Sim, era… Já trabalhaste com muitos nomes mesmo, mas tens algum com que gostavas de trabalhar que ainda não trabalhaste?
Luís: Pá, eu gosto, eu gosto muito, pá, acho que é um nome um bocado universal na comédia, que é o Bruno Nogueira.
Pá, acho que... Depois, imagina, também é um nome que tu sabes que, a partir do momento que começas a trabalhar com ele, pá, se calhar também já venceste um bocado na vida, pá.
Miguel: Sem dúvida, sem dúvida.
Luís: Isso é o mesmo que, opá, sei lá, agora, de repente, começas a jogar, sei lá, com o Ronaldo. Quer dizer, o Ronaldo, ele agora... Está na Arábia, mas pronto, ok, podes ter vencido na vida a nível monetário.
Miguel: Mas mesmo assim, o Ronaldo era…
Luís: É isso, é isso, é isso. Já sabias que venceste na vida.
Miguel: Só abraçá-lo.
Luís: Não, mas isto para dizer que realmente, opá, quando começas a ter esses nomes, a trabalhar contigo já é uma coisa, opá, que… No meu caso, ambiciono, de Bruno Nogueira, sei lá, eu gosto muito de Pedro Teixeira da Mota também, apesar de ser, se calhar, às vezes, tipo, não é tão da televisão. Se calhar, é mais para a geração mais nova, não sei, digo eu. Mas, se calhar, esses nomes, assim, que, pá, que me faziam pensar, não, espera aí, isto... Não estou a dizer, atenção, que os nomes que trabalhei, que...
Miguel: Exato.
Luís: Já estou muito feliz, opá, mas, claro que seriam...
Miguel: Claro que tens as tuas ambições e tens pessoas com quem te identificas também.
Luís: Sim, sim.
Miguel: Isso era incrível. Eu gosto muito do Bruno Nogueira também e mesmo do Pedro Teixeira da Mota também. Acompanho o trabalho dele, também acho que é muito bom, até. Na minha opinião, até o que eu gosto mais, que me identifico mais, até, a nível do humor, é o Carlos Coutinho de Vilhena.
Luís: Também, também, sim, sim,.
Miguel: Porque eu acho que… A nível do humor é bom, mas também depois, a nível de ideias…
Luís: Sim, de produção de séries e de coisas que ele, pá, que ele se lembra, como é que o gajo... Parece tão fácil, fogo esta ideia, eu não queria pensar nisto é?
Miguel: É isso! Muito fixe..
Luís: Se calhar até pensaste nisto, mas lá está, ele...
Miguel: Executou.
Luís: Executou.
Miguel: Exatamente. É isso, e eu, por acaso, gosto muito dele também.
Luís: É muito bom, sim senhor.
Miguel: Qual é que foi a... Tu disseste-me que ficas, assim, muito nervoso antes e com esse peso da responsabilidade.
Luís: Sim
Miguel: Quando atuaste pela primeira vez, como é que... Como é que te sentiste antes de atuar, de entrar em palco?
Luís: Olha, assim, da primeira a primeira vez, que foi essa que falei para uma lista, neste caso, do que é agora meu amigo, lembro-me que fiquei muito nervoso, mas acho que não se compara ao meu nervosismo quando foi a minha primeira vez, ou seja, foi a minha primeira atuação sozinho. Foi em 2018, ou seja, fui para aí a quatro, cinco cidades, acabei em Guimarães, no São Mamede, mas a primeira cidade foi Fafe.
Pá, eu acho que nunca estive tão nervoso na minha vida, eu acho que foi mesmo o expoente máximo do meu nervosismo, que foi, pá, uma coisa surreal, porque eu nunca tinha estado sozinho. Era a primeira vez, ainda por cima, eu não queria pensar muito nisso, mas depois pensava que era.
Eu não tinha testado o texto em lado nenhum, ou seja, eu fui com um texto que, opá, olha, seja o que Deus quiser, nunca podes fazer isso. E, ainda por cima, estar ali uma hora com esse texto, pá, é um bocado arriscado. Há comediantes que fazem isso, atenção…
Miguel: Mas…
Luís: São comediantes que já estão num nível muito superior àquele que eu estava e que eu estou. Sim, e até podem, ter um à vontade em termos de pressão, como também já tenho uma bagagem maior, e nessa tua vez foi a primeira, obviamente, que eu vinha sempre melhor, era sempre melhor testar um bocado.
Luís: Dava jeito.
Miguel: Mas correu bem, então?
Luís: É sim, correu. Correu, as pessoas gostaram e adoraram, só que depois, claro, que se notou a diferença, por exemplo, quem me foi ver a Fafe, que foi o primeiro e depois me foi ver no último, que foi em Guimarães. Notou claramente uma diferença, lá está, que é a diferença quando testas o texto e quando já estás à vontade com o texto. Mas foi realmente que eu me lembro, e foi seguramente... A atuação em que eu estive mais nervoso, eu cheguei a desmaiar.
Miguel: Era?
Luís: Sim.
Miguel: E agora como é que, antes de entrar em palco, agora ainda sentes esse nervosismo?
Luís: Sinto.
Miguel: É? Agora mais pequeninho, obviamente.
Mais pequeninho um bocadinho e mais controlado um bocado, mas sinto sempre aquela pressão de, ou é de, sei lá, de alguém que pode ver e pode não gostar e pode isto e pode aquilo. Ou é, sei lá, tipo, ou vai correr mal, ou me esquecer-me do texto, ou porque uma pessoa tinha ali as cábulas e tal, mas sei lá. Ou vai acontecer alguma coisa, penso sempre no pior. Penso sempre no pior, sim.
Miguel: E como é que tu lidas com essa pressão? Tens algum ritual antes, no camarim ou...
Luís: O ritual é ir à casa de banho. É ir à casa de banho e descarregar. Esse é o meu ritual.
Miguel: Eu também sou assim.
Luís: Gostava de poder dizer ou romantizar aqui um bocadinho a ideia.
Miguel: Só um bocadinho, sim.
Luís: Mas não.
Miguel: Eu digo isto porque eu, normalmente, eu jogo futebol e quando eu entro em campo é um bocado de ritual e superstição.
Luís: Sim.
Miguel: Entrar, tento entrar sempre com o pé direito dentro de campo.
Luís: Ok. Eu por acaso…
Miguel: Se resulta ou não, não sei.
Luís: Eu, por acaso, olha, sou-te bem honesto, nem sei como é que entro, nem tenho nenhum ritual. Às vezes é mesmo... Estou tão nervoso, percebes, ali naquele período inicial. Depois, no fim, ou ali a meio, uma pessoa começa a desfrutar e começa a realmente já.... Não, espera aí que isto está... Afinal, estamos bem aqui em cima no palco.
Miguel: Já estamos bem encaminhados.
Luís: Mas antes, antes, penso em mil e uma coisas. Porquê que eu estou aqui? Porquê que eu estou agora e tenho que fazer estas pessoas rirem-se? Estava também em casa. Tinha o meu trabalhinho sossegado, se calhar das 9h às 22h ou das 9h às 19h, ou lá o que for. É pá, estava tão bem e agora estou aqui.
Miguel: É isso, mas depois está bem uma pessoa, sai fora do nosso mundo e pensa, pá, é gratificante.
Luís: Depois sabem, depois é, não, afinal isto é fixe. Não quero desistir.
Miguel: Exato, quero continuar, quero continuar. E é como nós estávamos a falar também, que depois receber aquelas mensagens de apoio das pessoas é super gratificante.
Luís: É muito bom.
Miguel: Tu deste-me alguns exemplos? Também não sei se queres partilhar aqui assim, algum desses exemplos.
Luís: Posso partilhar e até dar um abraço enorme para as pessoas que... que seguem o meu trabalho porque parece cliché e soa a cliché mas não é a realidade é que se não são essas pessoas, o gajo está ali a falar para frente ao espelho. Mas são pessoas, e muitas vezes eu fico mais sensível. Claro que não estou aqui a dizer que o pessoal de Portugal não quer ser o pessoal, não, não estou a dizer isso.
Miguel: Exato.
Luís: Só quero dizer que o pessoal que está mais longe, que está ali naqueles momentos sozinho e manda mensagem, olha, estou aqui… sei lá, estou em França, estou aqui em Espanha, está às vezes espalhado pelo mundo. Estou aqui, pá, e tu és aquela minha cena de estar, sei lá, a jantar e estou a ver as tuas lives, ou estou a ouvir o teu podcast, ou estou a ver os teus vídeos e rio-me, ou estou a passar por um mau momento e o teu vídeo e... Pá, isso é muito gratificante. Claro que, opá, não vamos estar aqui com coisas, o dinheiro é fixe e ainda bem que ele existe, que é para pagarmos as contas.
Miguel: Exatamente, exatamente.
Luís: Mas isso é muito gratificante.
Miguel: É aquilo que enche mesmo o coração, acima de tudo. Se não houvesse o dinheiro obrigatório para pagar as contas, isso era o melhor.
Luís: Estou a falar para mim, como é óbvio. Às vezes as pessoas não têm bem noção do quão feliz me deixam a mim também com essas mensagens. Opá, porque não é mesmo o palio de saco, tipo, ei, que fixe, sou um boi de humilde. É mesmo verdade, percebi. As mesmas pessoas, opá, mandam-me mensagem às vezes a, dizer sei lá, dizem-se, opá, “se calhar nem vais ver”. É assim, vou ser honesto, às vezes não consigo ver tudo, mas quando vejo essas mensagens, opá, fico muito contente.
Miguel: Mas obviamente não pode ser só coisas boas. E eu também… infelizmente tenho aqui também um episódio que me aconteceu quando eu jogava futebol, quando fiz a minha transferência para o Vitória, eu já tinha uma lesão e depois essa lesão prolongou-se mais do que eu queria, depois entretanto veio a pandemia. Houve cortes salariais nas equipas, eu também sofri um bocado com isso e foi esse episódio na minha vida que mais me marcou. Deixou-me psicologicamente, fiquei um bocado abalado. Se era depressão ou não, eu não sei porque nunca, nunca quis ir ver, tentei ultrapassar as coisas só comigo.
Mas era isso que eu queria saber também, se tiveste algum momento em que pensaste, olha, isto não é para mim, eu quero desistir porque afinal não é, não é isto. Algum momento que te tenha deixado assim em baixo mesmo?
Luís: Opá, é assim, para além de situações mais pessoais ou que aconteceram na minha vida. Aconteceu se calhar uma na minha carreira que não me fez pensar, tipo é pá eu não quero, mas fez-me refletir foi assim um bocadinho. Foi só um cheirinho de… será que eles têm razão ou será que foi quando foi ao Got Talent e nem foi pelo… conto sempre esta história e digo sempre e faço sempre esta ressalva que não quero que as pessoas pensem que ele foi, não passou, está agora aqui com desculpas. Não foi mesmo, eu fiquei mesmo chateado e triste, foi porque na altura como editaram aquilo ó pá, com uma carga muito mais negativa, quando passaram eu fiquei, isto não foi aquilo que eu fui lá fazer.
Isto é o mesmo que sei lá, tu agora neste podcast punhas só uma coisa e eu a dizer olá, e tu fizesse assim foi lá dizer olá só, o gajo é burro. Pá aquilo deixou-me… afetou-me e fiquei um bocado, fogo, fiquei um bocado chateado e até desiludido com aquilo tudo e apetecia-me um bocadinho realmente se calhar mandar tudo à merda, que é mesmo assim. Mas só queria…
Miguel: Achas que esse episódio do Got Talent teve algum impacto na tua pessoa, nas decisões que tomas hoje ou na maneira como fazes comédia?
Luís: Sim, teve impacto no sentido de ser mais ponderado nas coisas em que me meto. Porque não deixou de ser uma experiência e digo sempre isto se fosse hoje, olha ia na mesma porque foi uma aprendizagem, mas aprendi ó pá. Aprendi um bocadinho, aprendi a não ligar tanto ao que as pessoas dizem porque imagina, depois disso resultou uma maré também de que pessoas que até já seguiam ou que até já tinham aqueles tipos de comentários a dizer “este gajo não vale o estouro”, depois realmente viu a minha atuação e disse “eu não disse, ele não vale mesmo um estouro eu tinha razão, o gajo não vale o mesmo estouro”. E foram todos ali a molhar a sopa e tal então fiquei um bocado, aprendi realmente a não dar valor.
Porque às vezes é inevitável dares sempre um bocadinho, eu digo sempre isto, depende do dia, de como é que estás, mas agora aprendi muito mais a realmente não ligar tanto a esse tipo de comentários, ó pá não são esses comentários. Não é o Luís15_33 que vai ditar tipo a tua carreira, é muito mais que isso pá. São pessoas, são muitas mais pessoas que depois vão conseguir definir-te como comediante só que claro, tu na altura estás triste e estás revoltado e começas a ler aquilo tudo. Depois também tinha esse hábito estúpido de ler tudo e às vezes até de responder, ó pá não era desagradável para ninguém tentava sempre, às vezes, até ser irónico mas era difícil, o gajo estava ali.
Miguel: Sim, eu percebo perfeitamente. Porque eu, lá está eu também crio… também faço vídeos nas redes sociais
Luís: Sim. Já assisti a alguns.
Miguel: E tu já viste algum também me acompanhas e eu tenho pessoas que com… que eu penso que têm 30, 40 anos que comentam que…
Luis: Já deviam ter juízo.
Miguel: Exato! Deviam era ter juízo e comentam coisas do tipo “quero que vás à falência” e estar a comentar isso num jovem de 20 anos que está…
Luis: Está a começar…
Miguel: E está a tentar fazer o caminho dele, acho que é um bocado desnecessário.
Luís: É mau. Sabes que eu penso sempre e cada vez mais tenho a certeza disso que são pessoas que imagina, sei lá, considero-me uma pessoa feliz tipo uma família, estou estável, estou bem. E não me vou dar ao trabalho, como é óbvio porque estou numa boa zona estou numa zona fixe. As pessoas que estão numa zona má, numa zona negativa, com problemas, acho que são essas pessoas que realmente não conseguem ter felicidade na vida que procuram depois esse tipo de coisas, percebes? Porque realmente não sei se é isso que as preenche ou se acham que é isso que as vai preencher. Porque ó pá, não é. Mas são pessoas que realmente não têm nada na cabeça. Porquê é que te dás ao trabalho? Podes não gostar, eu também não gosto de muita gente posso brincar com a pessoa porque é o meu trabalho ok, mas não me vou dar sei lá, ao trabalho estar em casa mandar uma mensagem “devias ir à falência”.
Miguel: Não faz muito sentido nenhum mas eu também não percebo. Em relação a essa a tua audição no Got Talent se tu voltasses atrás, se conseguisses voltar atrás no tempo tu achas que mudavas alguma coisa?
Luís: É assim, eu acho que se conseguisse mudar, eu acho que não podia mudar nada percebes. Ou seja, basicamente a minha comédia o meu tipo de humor eu acho que não é propriamente aquele humor mais familiar não é aquele humor mais se bem que agora consigo adaptar um bocado a outros estilos.
Mas acho que, não sei, eu acho que para aquele tipo de programa, acho que não funcionava nunca. Eu acho que mesmo comediantes que vão lá e bons comediantes, muito bons que passam ali até a semifinal, aquilo é mais do mesmo. Porque aquilo é sempre para a dança, é para o que canta, eu por exemplo, vejo outros formatos que não o português, porque o português ó pá não é mesmo uma azia.
Miguel: Exato! Claro.
Luís: Acho que é um formato um bocado cansado na verdade. É o que eu digo, vejo outros formatos tens mil e uma coisas diferentes e tens comediantes até botão dourado. E depois dizes ah, mas os de lá é que são bons e é por isso que merecem o botão dourado. É pá se calhar aqui até tens comediantes bons, mas se calhar até nem os deixam fazer humor por exemplo, que se calhar lá até fazem têm mais liberdade porque aqui és mais condicionado. Porque aí não podes fazer aquilo e depois tens de benzer antes de entrar, porque fica bem e não sei o quê e porque vestem-te uma roupa que tu se calhar nem estás habituado, mas é a roupa e perdes ali um bocado a tua essência. E são essas coisas que depois fazem o formato para mim, é a minha opinião. Não sou o diretor de programas, exceção de televisão, mas acho que fazem o programa perder um bocadito.
Miguel: Exato. Eu acho nós vemos lá fora, basta se calhar comparar os números que eles têm nesses programas e os números que nós temos mesmo apesar da nossa população ser menor em comparação…
Luís: Sim, sim. Mas quando vai para o YouTube ou quando vai para aqui em Portugal também podia ter muitas views fosse realmente bom.
Miguel: Bom, é isso.
Luís: Tens o exemplo, acho que é um bom exemplo, tens o Fernando Daniel, a primeira audição dele rebentou tudo meu. Tens pessoal na Austrália a reagir ao vídeo do Fernando Daniel.
Miguel: E ele foi convidado depois a cantar com… agora já não me recordo do nome, com uma cantora inglesa a cantar com ela em dueto uma música dela.
Luís: O rapaz bateu tudo, ó pá. Porque realmente era muito bom.
Miguel: Exato.
Luís: Naquele formato, o gajo era muito bom. Agora aqui, acho que perdem um bocado por causa disso. Condicionam muitas pessoas e acho que é sempre arroz, não estou a dizer que são fracos, ou que são… não, mas vejo lá pessoal incrível da dança, da música, pessoal incrível.
Miguel: Mas podiam haver mais, se calhar.
Luís: É sempre isso, percebes.
Miguel: E as pessoas mesmo…
Luís: É quase só isso.
Miguel: Os participantes se calhar cansam-se um bocado e nem querem participar porque veem que é mais do mesmo…
Luís: É isso mesmo. Eu toco acordeão, até sou muito bom, mas se calhar até vou lá, sei lá tipo, pode ser uma coisa que não vai dar.
Miguel: Que não fique muito bem mas depois obviamente também há programas que são muito melhores e que servem também para falar de coisas também um bocado sérias através do humor que é uma coisa que eu também gosto muito como o Daily Show nos Estados Unidos como o É Gozar Com Quem Trabalha aqui em Portugal. O que é que tu achas desse tipo de comédia, trazer este tipo de comédia para estes assuntos mais sérios?
Luís: Opa, adoro. Adoro primeiro, porque… porque lá está, e a minha opinião muito pessoal. Perguntaste-me há bocado momentos que até me fizessem na altura falei-te de GOT T mas claro que tive sempre… e temos a nossa vida enquanto pessoas que somos e o falecimento da minha avó, por exemplo, ajudou-me também a perceber um bocado e ter a certeza de que realmente o humor, tens os teus momentos, choras e fazes o luto e está tudo certo mas o humor e falo muito especificamente agora mais do meu caso como é óbvio.
O humor ajudou-me bastante realmente, a ultrapassar isso porque faz parte da vida temos que aceitar isso e temos que levar no meu caso, ó pá, e acredito mesmo nisso levar com humor, fazer piadas, brincar com os assuntos.
Miguel: Eu concordo totalmente contigo até porque às vezes parece que naqueles momentos mais sérios ou naqueles momentos em que parece que está mais triste é naqueles momentos que parece que tenho que fazer uma piada com a situação porque senão vou abaixo completamente.
Luís: É isso, é isso acho que o humor liberta-te. Primeiro acho que é um sinal de inteligência de que conseguiste distanciar-te da coisa que é mais negativa neste caso e conseguiste fazer uma uma piada.
Eu acho mesmo que e acredito muito depois dessa situação que me aconteceu, e antes disso a minha avó também já tinha Alzheimer. Também já era uma pessoa doente mesmo o Alzheimer. Fazer piadas com o Alzheimer tornava a coisa mais leve, porque é uma situação negativa se choraste todos os dias…
Miguel: A situação vai estar negativa.
Luís: A situação vai continuar negativa, ao menos riste um bocadinho é o que eu digo chorar faz bem e limpa a alma. Agora também é fixe teres aqueles momentos de piada de brincar com a doença, ou de brincar com o falecimento. De brincar com tudo aquilo que te apetecer.
Miguel: Exato, eu concordo totalmente contigo. Nós agora passamos também destas coisas mais sérias um bocadinho para este humor ligado ao desporto também.
Tu agora és o apresentador oficial do Vitória Sport Club do podcast deles, que é o Dezanove22. Como é que surgiu esse convite e como é que ficaste quando surgiu esse convite? Porque tu és vitoriano ferrenho, já te vi lá muitas vezes na televisão, no estádio e também quando vou ver alguns jogos também te apanho por lá.
Luís: Portanto não é sempre.
Miguel: E o que é que sentiste?
Luís: Nem surto de hábitos nem nada, estou ali tranquilíssimo, muito calmo, nem palavrões digo.
Miguel: O que é que sentiste quando recebeste esse convite?
Luís: Olha, primeiro sendo muito honesto não posso dizer que foi um convite.
Miguel: Ok.
Luis: Porque eu andei, e já andava atrás disto há algum tempo com outras direções. O Vitória já passou por períodos maus em que não tinha realmente ponta para onde se lhe pega e tive inclusive alguns amigos meus até a trabalhar no Marketing do Vitória, e que me diziam, o pá “ Luís olha, adorávamos fazer isto não há dinheiro para fazer, não há dinheiro para acontecer, portanto olha isto fica aqui agora em Águas de Bacalhau e olha vai tentando”. Acontece que esta esta direção já estava mais aberta, não é aberta ao diálogo, acho que já estava mais com essa ideia mesmo. Porque não realmente fazer aqui uma coisa com o Luís, ó pá lá está, não foi um convite direto foi um convite assim meio, lá está meio eu também…
Miguel: Claro.
Luis: Eu a forçar aqui um bocadito a barra. A tentar aqui um bocadinho a puxar a brasa para o nosso lado.
Miguel: Claro, tem que ser.
Luís: E depois aconteceu, estava super nervoso, porque primeiro eu achei lá está, que mandei e tentei só que achei, eles disseram que sim mas isto agora vai ficar outra vez em Águas de Bacalhau. Eles não vão dizer nada, por acaso começaram “Não, isto agora é sério”, começaram a mostrar o cenário. Espera aí, afinal estão-me a mostrar o cenário.
Miguel: Isto vai acontecer.
Luís: Isto já vai acontecer, mesmo assim mostraram o cenário, ó pá pode ser o cenário para outro programa.
Miguel: Oh, exato.
Luís: Depois na altura quando começou realmente a acontecer e gravei o primeiro episódio com o Varela foi incrível e tem sido incrível, conhecer pessoas que são ídolos para mim e pessoas com quem eu vibro no estádio e na televisão às vezes quando não posso ir ver, não é. Mas é uma honra enorme porque depois represento também um bocadinho daquilo que é o adepto e daquilo que se calhar o adepto queria saber sobre. Quer dizer, represento porque sou, não é!?
Miguel: Exato.
Luís: E às vezes até me esqueço não que sou adepto, esqueço mais o contrário que sou uma pessoa que agora até tem um peso um bocado grande na estrutura.
Exatamente, e que está ali com uma responsabilidade acrescida e às vezes no estádio, uma pessoa esquece-se e está ali já…
Miguel: Ali já a saltar e subir paredes.
Luís: A subir as paredes.
Miguel: Mas isso é muito bom porque lá está, eu acho que antigamente havia uma ligação muito pouco pessoal entre jogador e adepto.
Luís: Sim, sem dúvida.
Miguel: E acho que essa ligação precisa de existir porque toda a gente fica a ganhar com a conhecer melhor a pessoa. Porque obviamente se eu te conhecer melhor e tiver uma ligação pessoal contigo depois também se eu estiver no estádio ou se outra pessoa estiver no estádio também não vai dizer as coisas que diz, se calhar.
Luís: Sim, sim.
Miguel: Porque já se identifica mais também com aquela pessoa. Achas que essa ligação pessoal entre atleta e adeptos precisa de continuar a ser trabalhada?
Luís: Sim
Miguel: Porque é algo importante.
Luís: Muito importante e estamos num bom caminho, digo sempre isto. Mas sinto que ainda falta, ainda precisamos enquanto adeptos enquanto massa precisamos de perceber que pá, clubes, jogadores, ó pá é fixe de vez em quando uma brincadeira, uma troca de galhardetes. O pessoal mistura logo tudo, começa logo a insultar o pessoal não sabe se separar, o futebol é uma coisa que te deixa…
Eu percebo, porque lá está, também sou adepto e estou no estádio. Uma pessoa ferve, às vezes é tão fixe se estiveres na Alemanha, vês às vezes na Inglaterra os clubes a brincar entre eles, um clube que perdeu 5-0 e põe a mãozinha e o outro, tipo, até vai lembrar num resultado e até… se for aqui. Tipo, começa o pessoal todo a enxovalhar, “é também levaste”, e dizem, “calma pá estão a brincar entre eles deixa-os brincar. Mesmo os jogadores lá está, tipo, se têm uma opinião, não podem ter opinião. Não podes, és jogador não podes ter opinião. Tens de ser um robô que está ali a dar um…
Miguel: A dar uns chutos na bola.
Luís: E se fala, é, porque aquele jogador tem mania de falar de política. É pá, é o que é, se ele gosta de falar de política, pá, até fala, tipo, pá. Não está, acho que há coisas piores, há jogadores a fazer coisas piores.
Miguel: Muito piores
Luís: Mas também não vamos falar disso.
Miguel: Exatamente
Luís: Muito piores e a saírem em liberdade. Mas também não vamos falar disso.
Miguel: Não vamos falar disso. É melhor.
Luis: É melhor não falar disso. Não, mas, pá, são coisas normais, que se gosta de falar, e que ainda bem que falam, porque é sinal que não são robôs, e que gostam de falar dessas coisas.
Miguel: E até porque têm uma voz, ou deviam ter uma voz ativa, porque são conhecidos por muita gente…
Luis: Exatamente
Miguel: e podem mudar mentalidades, isso tem que partir um bocado também deles, porque lá está, há muitas crianças e muitos jovens…
Luís: Que acompanham.
Miguel: Que nos acompanham e que…
Luís: E que veem nele lá. São os ídolos dessas pessoas. Então, pá, se o meu ídolo diz que é Y, eu fogo se calhar realmente até é mesmo Y. Então porque não realmente usar os jogadores, até para esse tipo de coisas? Para sensibilizarem algumas causas, por exemplo, e às vezes fico triste, pá, porque o pessoal, acho que aqui já está, atenção, é o que eu digo, estes programas são um bocado a resposta a isso, que realmente as coisas estão a evoluir, mas que precisamos ainda de evoluir mais um bocadinho, ainda eu acho.
Miguel: Exato, eu também acho que sim, mas é como eu digo, é por isso que eu também te admiro, muito. Estás a trazer essa parte mais humana dos jogadores cá para fora, ainda pouca gente faz isso, principalmente em Portugal. Lá fora já se vê mais um bocado.
Luís: Lá fora já se faz isso ao tempo.
Miguel: E eles veem os podcasts e riem-se todos e podem fazer uma coisa mais divertida.
Luís: É isso.
Miguel: Aqui tem que se passar sempre um bocado por diretores de comunicação e tudo.
Luís: Sim, é mais complicado.
Miguel: E torna-se um bocado mais chato.
Luís: Eu se calhar às vezes até queria, por exemplo, englobar outros clubes e até fazer coisas mais dinâmicas, só que é difícil. Porque se não é pelo clube, ou até pelo agente, ou se não é pelo agente, é pelo... percebes? Há sempre ali alguém a dizer, e pá, mas isso…
Miguel: Pois, é isso.
Luís: É esse bloqueio aí.
Miguel: Eu acho que... lá está. E nós também criámos um bocadinho este podcast com o intuito de trazer não só pessoas de Guimarães. Como não estamos ligados a nenhuma estrutura, podemos trazer a gente de onde quisermos.
Luís: Sim, sim, sim, é bom.
Miguel: E lá está, e queremos mostrar um bocado isso, que o futebol não é só o clubismo, que eu sou do Benfica... Outra pessoa é de Sporting, outra pessoa é de Porto, podemos conviver, conviver todos uns com os outros e não precisamos estar aqui a bater todos uns nos outros.
Luís: Sim, podem falar. Acho que as pessoas, ou algumas pessoas têm dificuldade em perceber, é que é, por muito que eu argumente, pá, tu não vais deixar de ser do teu clube.
Imagina que alguém dizia, pá, mas está fora do jogo. E pá, tens razão. Olha, o Vitória não vale nada. E olha, realmente, olha, até vou deixar de ser sócio. Claro que nisso não vai acontecer, pá.
Miguel: É isso.
Luis: Acho que os argumentos são fixes, e é fixe discutir se é fora de jogo, se não é, pá, isso faz parte do futebol, é bonito. Agora, quando começas a insultar a pessoa, pá, porque é de outro clube, ou porque tem uma... ou porque acha que o Cristiano Ronaldo devia ter feito aquele golo, que o Cristiano Ronaldo é para jogar a ponta de lança ou defesa esquerda. O pá, sei lá, a opinião da pessoa, pá, é o que é. Agora tu és burro, pá, calma, tem calma.
Miguel: Exato. Eu respeito a tua opinião, pá, não concordo, pá, amigos à mesma e vamos ver um jogo e bebemos uma cerveja juntos e isso já passa.
Luís: É isso, exatamente.
Miguel: Tu tens algum momento caricato no estádio ou assim no futebol que… alguma história assim engraçada que aconteceu e que tu possas contar aí?
Luís: Posso, posso até, porque já contei. Tenho outras, mas é melhor contar esta, porque assim, esta aqui é suave e não é, já não é assim tão suave quanto isso. Pá, já foi há algum tempo atrás, mas uma... já tinha alguma visibilidade e tal. E pá, eu entusiasmei-me um bocadito e estava ali no estádio, entusiasmei-me um bocado, ia para casa e tal, tudo muito bonito. Chego a casa e dei a mensagem de um miúdo, eu acho que na altura foi no Facebook, e o miúdo disse-me assim, olha, eu vi-te no estádio. Eu ia a sério. Ele assim, estavas a cuspir no fiscal da Liga. E eu, este… E eu, que vergonha. Que vergonha, que vergonha.
Miguel: Bem, isso agora...
Luís: Eu apetecia-me dizer, ah não era eu. Exato. Imagina, não se via, não sei o quê. Opa, tive muita vergonha.
Miguel: Exato, eu percebo. Às vezes…
Luís: Não, tu não podes deixar levar tantos minutos.
Miguel: Exato, exato, exato. É complicado, tu ficas ali a ferver, mas…
Luis: É complicado.
Miguel: É complicado.
Luis: Esta linha tem que ser, opá, um insulta o outro, assim, é o mais básico, um filho disto, um filho daquilo. Pá, e até fixe um escape, pronto, está ali.
Miguel: E é outra coisa que era engraçado, por exemplo, e tu que estás muito ligado ao futebol, pá, e eu vejo, eu vou ao estádio e jogo futebol, e sou insultado. E vejo pessoas a insultar, pá, e eu acho que os insultos são sempre a mesma coisa.
Luís: Sempre.
Miguel: Porquê que tu não chegas agora, crias um workshop, ou...
Luís: Sobre insultos.
Miguel: Sobre insultos, e começas a ensinar as pessoas a insultar isto de uma maneira mais engraçada, porque isto...
Luís: Por acaso.
Miguel: É sempre a mesma coisa.
Luis: Até te posso contar esta, pá, eu tenho um amigo meu também que costuma estar no mesmo sítio que eu a ver futebol. Esse tal rapaz que eu te falei, do... É o Paulo, o que eu te falei da lista, que me convidou…
Miguel: Exato.
Luís: Pá, e nós hoje temos essa coisa, opá, de ir no bar nos insultos. Pá, e nós houve ali um jogo contra o Benfica, opá, ele também já não está a jogar, já posso falar, e até porque ele riu-se. Isto é mesmo verdade, ele ria-se, pá, porque eram insultos, opá, que se calhar ele não estava à espera.
Ele estava assim mais gordinho, o Eliseu, na altura. Nós começámos a mandar aqueles insultos, o pá “o gordo é à baliza”, e “tens a mochila à frente”. Opa, o que é facto é que ele ria-se, porque se calhar lá está, como está habituado, ou filho disto, ou filho daquilo, começou a vir assim uma cena diferente.
Opá, mas há alguns, e agora é que nem me estou a lembrar, mas naquela bancada, principalmente onde eu estou, pá, às vezes há insultos, principalmente até de pessoal mais velho. Que eu pergunto, opá, este homem devia dar um curso sobre insultos, opá, distanciou-se do filho daí, do filho... Não, não, foi insultos, opá… Bué originais.
Miguel: Bué originais. Há uns que são mesmo originais, e eu fico, como é que este gajo se lembrou disto? É mesmo, é mesmo.
Luís: É engraçado.
Miguel: E é, mas é, pronto, é a parte, é também engraçado, é nos rirmos todos um bocadinho com isto, porque há muita gente que passa durante a semana, passa a semana toda à espera do jogo também para…
Luis: Sim, eu percebo, sim, sim, sim.
Miguel: Porque vive mesmo o desporto.
Luis: E vive aquele intensamente, opá, e... opá, é o que é, tipo, eu não quero ser mal interpretado, mas imagina, aquilo é o ponto alto da...
Miguel: Da semana de alguém.
Luis: Da semana de alguém, percebes?
Miguel: Exatamente.
Luis: Eu estou a falar, mas... peço desculpa, eu estou a falar, mas imagina, sei lá, tal, e chega o jogo, vitória ganha, pá, a semana fica, a semana está a correr muito melhor.
Miguel: Exato.
Luís: Perde, ui. A semana já, a pressão está ali segunda-feira, terça, não, não sei.
Miguel: Já custa, já custa um bocadão.
Luís: Já custa mais a passar. Mas pronto.
Miguel: Mas, lá está, sem humor isto não, também não era, não metia tanta piada e tu achas que a tua vida sem humor, obviamente…
Luís: Não, não tem piada nenhuma. Lá está, eu gosto, gosto, porque as pessoas pelas quais eu me rodeio, quer dizer, a minha família, não escolhi, não é? Mas... Minha namorada... Não foi bem uma escolha, foi quase uma obrigação. Não, estou a brincar.
Miguel: Uma obrigação, não digas isso, não.
Luis: Estou a brincar, estou a brincar? Não, pá, todas as pessoas que estão ao meu lado também são pessoas muito bem-humoradas, porque faço questão de ser assim, porque não faz sentido de outra maneira, pá.
Não gosto e não me identifico, eu respeito, mas não gosto, pá, daquela pessoa aí, pá. Está a chover, pá, e... Que merda, pá. Há sempre alguém pior do que nós, sei lá, tens uma casa, estás fixe, estás com saúde, estás tudo a correr bem.
Miguel: Tens casa, tens família,
Luís: Está tudo a correr bem.
Miguel: Tens de comer.
Luis: É isso, pá, claro que... Estou a falar, mas há dias em que uma pessoa se sente realmente triste e sente-se é pá. Mas temos que pensar sempre, relativizar e dizer, pá, há sempre alguém pior do que...
Miguel: Exato, porque obviamente há sempre pessoas piores que nós.
Luis: Sempre.
Miguel: Mas obviamente nós também temos as nossas ambições
Luis: Claro e é normal.
Miguel: E às vezes ficamos tristes, às vezes por não conseguir.
Luis: É perfeitamente normal.
Miguel: Mas também eu vivo um bocado como tu, que é isso, é… Há muita gente, há muita gente mesmo mal. E nós somos uns felizardos, temos casa, temos abrigo, temos uma família que nos ama, temos comida. Acho que isso é o mais importante.
Luís: Sim, sim.
Miguel: O resto, se vier por acréscimo, é com o nosso trabalho.
Luis: Exatamente.
Miguel: É com o nosso trabalho, sem dúvida. Tu dirias que tu... Lá está, tu contaste uma história da tua avó e quando ela tinha Alzheimer e que fazias algumas piadas sobre isso. Tu consegues rir-te de ti mesmo, lá está, quando essas pessoas, esses comentários negativos caem sobre ti, tu consegues-te rir com alguns? Consegues rir-te de ti mesmo?
Luis: Imagina, é estranho dizer isto e... Só que imagina, eu noto, noto um bocadinho, e não sei se é um talento que eu tenho. Que não é talento nenhum, mas eu noto um bocado e imagina, por exemplo, sei lá, quando aconteceu isso da minha avó, eu fazia piadas, algumas pessoas faziam piadas e eu ria-me, pá. Mas eu às vezes sentia que algumas pessoas já não era bem piada, percebes? Estava ali um bocado disfarçado, em vez de querer pisar, percebes? Pá, eu parece que notava isso. Estou totalmente tranquilo, pá. E tudo o que é em relação a mim de piadas e... Comentários, já é diferente. Comentários, opá, imagina que fazem comentários sobre mim. Irmão, é o que é? Olha, eu sei que estou aqui, estou a fazer os vídeos.
Pá, quando começam a tentar insultar a família, ou tentar ir ali a outros lados, aí já tenho pouco filtro. Devia ter mais filtro, mas aí já tenho pouco filtro, porque, opá, é uma coisa que me toca bastante, percebes? É a família, ou é a minha namorada, ou os meus amigos, opá, lá está, são pessoas muito chegadas, aí já fico mais tenso porque, pá, não são eles que estão ali, percebes? Não foram eles que fizeram a piada, não foram eles que... Não é preciso partires para aí, pá. E às vezes há pessoas que vão por aí e, pá, e o moço já fica mais, já mexe mais um bocadinho. Agora, em relação a mim, opá, é o que é isto?
Miguel: Exato, já consegues…
Luis: Temos de estar à espera, temos de estar à espera porque…
Miguel: Exato, até porque uma pessoa... Nós também… Às vezes as pessoas queixam-se que são... Que existem comentários que não gostam na internet, não é? A verdade é uma, nós também expomos a nossa vida lá, estamos sujeitos a que alguém comente, podemos não concordar.
Luís: Sim, sim.
Miguel: Obviamente, isso, nós expondo ao nosso trabalho, não dá direito a outra pessoa de vir comentar coisas que não fazem sentido nenhum. Se vier com uma crítica construtiva, olha, podias melhorar nisto, assim, nós até agradecemos porque…
Luis: Eu ponho-lhe uma foto e comenta, “és feio mano”. Ya, está bem, mas...
Miguel: Ninguém te perguntou nada. Porquê é que eu sou...
Luís: A minha mãe diz que eu sou bonito, o que é que se passa? É isso mesmo.
Miguel: A minha namorada, é pá, tenho namorada.
Luis: É isso, tenho namorada, vamos acabar.
Miguel: A minha mãe diz que eu estou bem.
Luis: Exatamente.
Miguel: Porquê é que estás a dizer coisas feias?
Luís: Às vezes é mais nisso que eu penso até, tipo, opá, porquê? Porquê é que foste comentar isto, ninguém te pediu opinião, sei lá. Há comentários que eu percebo, olha, falaste do podcast, eu estou atento e gosto de ver comentários, tipo, aí, falaste muito aqui, ou até podias ter isto e podias ter aquilo, pá, perfeito. É isso, vamos pegar nestes comentários e vamos crescer. Agora, “és burro”, opá, sim, mas porquê então? Explica-me porquê eu sou burro.
Miguel: Explica ao menos porquê é que eu sou burro.
Luis: Imagina que eles dizem, és burro porque falhaste esta conta de matemática. Aceito, sou mau a matemática, está fixe, tens razão.
Miguel: Agora só.
Luis: Agora só, és burro, pá, tens de me dar mais, tens de me, pá, tens de me dar mais.
Miguel: Senão…
Luís: Não dá para crescer.
Miguel: Exatamente.
Luis: Dá para gozar com este comentário, agora crescer não.
Miguel: E tu, já estou a ver que essa parte mental está em ti, está bem trabalhada.
Luis: Eu falo, falo de boca cheia, digamos assim, porque, pá, tenho uma boa estrutura. Quando não tens estrutura é complicado. Tu não tens estrutura, tipo, estás sozinho com uns problemas, não tens…
Imagina que alguém me diz, és burro? Eu até falo, estou ao lado da minha namorada e eu olho para ela e digo, pá, sou um burro, não podes ligar a isso. Pá, tu não és nada burro, até és isto e aquilo. Não, se calhar a minha namoradada vai dizer, és burro sim senhor.
Miguel: És burro, sim senhor.
Luís: Não, estou a brincar. Não, percebes? Quando há uma estrutura, uns pais, pá, quando há uns amigos… Agora, quando não há uma estrutura é mais complicado. Opa, mas o segredo eu acho que é mesmo, pá, tentares realmente não ligar, porque é difícil. E ao início não te vai acontecer, ao início tu vais ler tudo e vais-te importar e depois, lá está, começas a crescer mais um bocadito e até começas a chegar a outros patamares e ainda começas a ligar. Às vezes há dias, pá, que estás mais sensível, até ligas, ó, és burro. Pá, será que sou não burro?
Miguel: Exato.
Luis: Pá, mas depois começas a distanciar-te cada vez mais e começas a chegar a um patamar que realmente, pá, olha, eu não sou nada burro, este gajo é que é burro por estar aqui a perder o tempo dele.
Miguel: É a perder o tempo dele.
Luis: Mas, eu acho que o maior conselho é mesmo, ó, pá, tentar, que é o que eu digo, acho mesmo que ao início é quase impossível, mas tentar não ligar a esse tipo de comentários. Ligar só àqueles que dizem, olha, não, eu não te acho burro, acho é que devias fazer assim e assim e assado. E tu, olha, pá, é isso, está fixe, está o meu comentário, até vou crescer aqui com este comentário.
Miguel: Exato. E era uma coisa que eu até, quando estava a começar a fazer um bocado, eu, lá está, eu, felizmente como tu, também tinha esse suporte de família e de amigos muito grande. E, pá, tirava sempre print aos comentários e mandava para o grupo do WhatsApp dos meus amigos e começávamos a rirmo-nos daquilo.
Luis: Isso é o melhor. É gozar-se com o comentário.
Miguel: É isso.
Luis: Porque, por norma, eles nunca sabem escrever. É uma cena que tem que, eu não sei onde é que eles vão tirar o curso, mas é, pá, olha, o curso de hater é, não me podes chamar-me de hater.
Miguel: Não podes.
Luis: Tens que dar-lhe a... Pá, ainda anteontem no Twitter, há um gajo na Twitter, um gajo que me chamou cabecudo. Em vez de me chamar cabeçudo, tipo, chamou-me cabecudo. Há erros, opá, que eu consigo até dar mais ou menos de barato. Pá, agora se me queres insultar, ao menos insulta-me direito.
Miguel: Exato.
Luis: Não me podes chamar cabecudo, meu.
Miguel: Porque depois, se tu quiseres pegar com ele, pá, se eu quiser pegar contigo, pois é fácil.
Luís: É fácil.
Miguel: Não sabes escrever sequer.
Luís: É isso. Bro, tipo, vai para a escola.
Miguel: Vai para a escola, exatamente. Agora, pá, completa-me esta frase. Futebol ou comédia?
Luis: Ui, comédia.
Miguel: Comédia. Exato.
Luis: Pá, é a minha vida.
Miguel: É a tua vida profissional, exato.
Luis: Tenho de dizer comédia. Tenho de dizer comédia. Tenho de dizer comédia. Tenho de dizer comédia.
Miguel: Mas se não dependesses, imagina que não dependias agora da comédia para ser a tua vida profissional. Preferias nunca mais ver um jogo de futebol de vitória ou nunca mais atuar em palco?
Luis: Pá, é tenso porque imagina, eu acho que conhecendo-me a mim próprio, mesmo não dependendo das atuações, imagina que, pá, estou mesmo bem de dinheiro, pá, quero lá saber das atuações. Só que há uma coisa que eu gosto tanto, por exemplo, pá, e a cena é que também gosto de ver jogos de vitória, como é óbvio. Pá, mas era muito difícil, era muito difícil. Eu acho que nem sei se conseguia escolher porque, opá, são coisas…
Miguel: São coisas mesmo difíceis.
Luís: São coisas mesmo difíceis de escolher. A cena é que a comédia, opá, é o meu ganha-pão neste momento. Exato. E o vitória, assim, acaba por ser agora também o ganha-pão.
Miguel: Agora também um bocadinho.
Luís: Mas ver os jogos ainda não é, pá, ainda não me pagam para ver os jogos.
Miguel: Isso era demais isso.
Luís: Quando chegar aí… Não, por acaso acho que nem gostava, pá. É uma coisa, acho que depois ia-se perder um bocadinho…
Miguel: Ah, exato.
Luís: Pá, sei lá, fazer-se presença num estádio, tipo, acho que é perder um bocado aquilo
Miguel: Já é perder um bocado o amor e a paixão.
Luís: Eu acho que já chega, o futebol já está a ficar cada vez mais um…
Miguel: Um espetáculo.
Luís: É inevitável, ok? Tipo, a cena do dinheiro, dos agentes, disto e daqui, pá, é inevitável. Mas há superligas no Japão, mas…
Miguel: Achas que… lá está, e eu acho que se perde um bocado de paixão… E acho que o futebol no seu estado mais puro já passou…
Luís: Já, infelizmente.
Miguel: Ali nas décadas de 70 ou 80, 90…
Luís: Um gajo com bombo, outro gajo a beber uma cerveja, um com guarda-chuva, outro a fumar o seu cigarro, o seu charuto, pá, o que é? Tipo, estão lá, estão a… Pá, não sei, essas coisas bandeiras, tudo ali, tudo contente, pá, acho que esse estado puro do futebol é que é, a minha opinião. Claro que há pessoas que… Não, não, o futebol é bonito assim, pá, tudo ali sentadinho e tudo ali…
Miguel: Mas eu acho que as pessoas também têm a mesma opinião e, pá, a maior parte das pessoas concordam um bocado connosco.
Luís: Sim.
Miguel: Eu acho que… Lá está. Eu acho que o estado puro do futebol agora é difícil de ser encontrado nas primeiras divisões, mas mais futebol distrital…
Luís: É isso.
Miguel: Tu encontras aquele…
Luis: Isso é que é bonito.
Miguel: É isso, isso é que é bonito. Tu encontras aquele amor…
Luís: Com aquele barrigudo…
Miguel: Com aquele barrigudo a ir buscar uma bifana e uma cerveja ao intervalo…
Luis: Exatamente, exatamente.
Miguel: E insultar o Bandeirinha na…
Luis: Ele todo vermelho, insultar o Bandeirinha por causa dele teve infarto ali…
Miguel: No muro, exato. E tu… Lá está. E vês essas pessoas que pagam, pagam para… e ver um clube que não está numa primeira divisão…
Luís: Jogar em terra, meu fogo.
Miguel: A jogar em terra e que estão lá a apoiar o clube e é isso. E eu acho que isso é que é o futebol no seu estado mais puro.
Luís: É isso o futebol. Eu acho que se perde, e tem-se perdido um bocado isso. Infelizmente, eu acho que, opá, não tarda, lá está. Cada um sabe de si, opá, e claro que há pessoas que gostam de ver o futebol sentado, às vezes lá está. Está a chover muito, até gosto de ir ali, pá…
Miguel: Para a cadeirinha.
Luís: Para a cadeirinha e tal, até estou confortável. Pá, mas sei lá, acho tão bonito, mas tu ali a saltar, tu ali à chuva, tudo ali… De repente já estás ali, tipo, a lavar-te com cerveja em cima de ti, não sei lá, sei lá o que te pensa, pá. É emoção, não é?
Miguel: É emoção, é emoção no estado mais puro, exatamente. Ah, Luís, pá, muito obrigado por este momento incrível.
Luís: Obrigado eu.
Miguel: Agradeço de fundo o coração de teres aceito este convite.
Luis: Muito obrigado pelo convite. Foi um prazer.
Miguel: O prazer foi todo meu. Obrigadíssimo. E quanto a vocês, preparem-se para o próximo episódio do Inspired by Legends. Garantimos que será tão emocionante como este.
Grande abraço. Obrigado.
Fazer rir é uma arte, e nem sempre agrada a todos. Aprendemos com o Luís Vieira que a vida é mais divertida quando rimos. O humor é uma ferramenta poderosa e, muitas vezes, um escape. Quando estamos mal, ajuda-nos a lidar com o luto e transformar momentos tensos em risadas. Com este episódio aprendemos a rir de nós próprios e conhecemos um lado mais frágil tanto de Miguel Soares quanto de Luís Vieira.
Deixa-te inspirar e divertir com as histórias de Luís Vieira, onde descobrimos que o humor pode ajudar-nos a ter uma transformação pessoal e social. Subscreve o nosso podcast “Inspired by Legends”, para não perderes nenhum episódio.
Lembra-te, a vida é mais leve quando é vivida com um sorriso.