A conquista do eSport e a paixão pelo futebol de Raquel Martinho

The Conquest of eSports and the Passion for Football by Raquel Martinho

Na estreia do Podcast Inspired by Legends da BYMS, vais conhecer a primeira convidada, uma atleta notável de eSports: Raquel Martinho. Como jogadora doFC Porto nos eSports, Raquel não só conquistou o seu lugar no mundo competitivo dos jogos eletrónicos, mas também deixou a sua marca no prestigiado Museu Futebol Clube do Porto.

Antes de avançarmos para o percurso inspirador da Raquel, é essencial entender a distinção entre gaming e esport ou desporto eletrónico. Enquanto o jogo refere-se ao ato de jogar videojogos de forma regular ou ocasional, o esport envolve uma competição organizada e extremamente competitiva, seja individualmente ou em equipa.

Ao longo do podcast exploraremos os altos e baixos de sua carreira, os desafios que destruíram e os segredos por trás de seu sucesso. Prepare-te para uma conversa emocionante e inspiradora de Miguel Soares, fundador da BYMS com Raquel Martinho, uma verdadeira inspiração para todos os aspirantes a jogadores de eSports ou para aqueles que almejam seguir um sonho, mas não sabem se são capazes.

Licenciada em Biologia, com mestrado em Biologia Celular e Molecular e doutoranda em Ciências Biomédicas. Já foi professora no ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, e foi consultora na empresa de consultoria em gestão empresarial Winning. Começou a competição em 2020, representando o FIFA/EA FC, e já passou por várias equipas de renome como GrowUp eSports, SC Braga, CD Tondela, até chegar ao seu atual clube, o Futebol Clube do Porto, acumulou 4 títulos nacionais, foi duas vezes campeã nacional feminina da federação portuguesa de futebol, e uma vez campeã nacional por equipas da Federação Portuguesa de Futebol com o CD Tondela e uma vez campeã da Taça eLiga Portugal com o FC Porto. Em junho de 2023 ficou no top 4 quando representou Portugal no torneio da FIFAe.

Acompanhe-nos nesta jornada enquanto exploramos o incrível mundo do eSport através dos olhos de uma verdadeira campeã. Sua história não é apenas sobre vitórias e troféus, mas também sobre dedicação, paixão e busca incansável pelo sucesso em alguns dos campos mais competitivos da atualidade.

Inspirado em Legends com Raquel Martinho: A Conquista do eSport e a Paixão pelo Futebol

Transcrição completa do Podcast

Miguel: Se acreditas em abraços, se tem orgulho de onde vem e se achas que uma equipa é muito mais do que cores, então este podcast é para ti. Eu sou Miguel Soares , fundador da BYMS , e criei este podcast com a missão de encontrar e celebrar as lendas de hoje em dia.

Hoje conhecemos Raquel Martinho , atleta do futebol clube Porto e eSports. A Raquel é apaixonada por biologia, tem doutorado na área, mas recentemente também se dedicou à parte dos eSports. É jogadora atualmente do futebol clube Porto e já foi campeã várias vezes a nível nacional. É um orgulho ter-te aqui connosco, Raquel. Está tudo bem contigo?

Raquel: Está tudo bem, Miguel. Obrigada desde já pelo convite.

Miguel: Ora essa, obrigada eu por estares aqui. Vamos começar. Se tu pudesses conversar com alguém, vivo ou morto, quem é que escolherias?

Raquel: Essa questão é complicada, mas assim a primeira pessoa que me veio à cabeça, sinceramente, foi a Beyoncé.

Miguel: Beyoncé?

Raquel: Sim.

Miguel: Engraçado. Mas diz-me neste momento que estás a pensar na Beyoncé, que características dela é que achas que te inspiram ou que te fazem levar a gostar tanto dela?

Raquel: Eu acho que a coisa que mais admiro na Beyoncé sempre foi a sua ética de trabalho, a sua resiliência, sendo uma mulher negra na América, eu acho que ela sempre está livre e continua a lutar pela causa. E acho que é a coisa que mais admiro na Beyoncé, adoro as músicas dela e como mulher, por isso é que foi literalmente a primeira pessoa que me veio à cabeça.

Miguel: Sim, eu também gosto muito das músicas delas e nem sei se até ela já entrou com alguma música em algum videojogo.

Raquel: Sinceramente não faço ideia, mas eu sou honesta, eu jogo Fifa sem o áudio e não ouço as músicas.

Miguel: Ah, e não ouve as músicas?

Raquel: Eu ouço mesmo sem som nenhum, porque a música me distrai.

Miguel: Ah, sério? Ah, pois, também tens de te concentrar bastante, porque já estamos a falar de uma pessoa que entra em torneios.

Raquel: Sim, praticamente lá está, em torneios presenciais é a única ocasião que eu ouço mais som, por causa dos comentadores e do áudio de trás. Mas música, não sou daquelas pessoas que jogam com música porque me distrai.

Miguel: Engraçado, eu por acaso quando jogo sempre com a música, até tenho algumas memórias de músicas muito engraçadas, quando eu jogava quando era mais novo, aí muita gente também se deve gravar algumas músicas.

Raquel: Sim, há malta que gosta do Fifa e associa muito a certas músicas, mas eu por acaso não consigo mesmo.

Miguel: Pois, é como eu.

Miguel: E diz-me, como é que surgiu esta oportunidade de entrar no eSports? Foi alguma coisa que já gostava desde criança ou foi uma paixão que surgiu à medida que ias crescendo?

Raquel: Eu desde pequenina sempre gostei de jogar, o primeiro jogo que eu joguei foi Pokémon .

Miguel: Pokémon?

Raquel: Que tinha o Game Boy Color , aquela rosa.

Miguel: Sim, sim, sim.

Raquel: E lá está, joguei Pokémon, mas depois fui jogando, tinha também, PSP , aquele PlayStation Portátil.

Miguel: Sim, sim, também tive uma.

Raquel: E às vezes quando me fazem a pergunta, qual é que foi o primeiro Fifa que eu joguei? Na verdade, foi mesmo mais na PSP, foi o Fifa 9 que eu joguei.

Na altura lá está, na PSP dava uns toques jeitosos, mas quando comecei a jogar mesmo, a entrar mesmo mais nos mundos esports , foi ali em outubro de 2019, quando eu tive capacidade monetaria para comprar a minha PlayStation 4 , comprei o FIFA 20 , e foi o primeiro Fifa que eu joguei, ou seja, há 4 anos, já comecei tarde, comecei aos 26 anos.

Miguel: Fogo. Começas tão tarde e já cresceste tanto.

Raquel: Eu comecei aos 26, que às vezes muitos jogadores profissionais de Fifa e de esports, às vezes a essa idade já se retiram, já estão cansados ​​porque começaram aos 15 anos a jogar.

Miguel: Exato.

Raquel: Eu já comecei tarde, mas acho que ainda fui a tempo. Comecei lá está. O cenário aqui em Portugal começou em 2020, tivemos um torneio na altura organizado pela TS Warrior , que foi uma organização de esports , que fez o primeiro torneio feminino. Eu perdi logo na primeira rodada, eu estava super nervosa, as minhas mãos tremiam. Mas foi assim a minha primeira experiência, foi também a partir daí que consegui entrar na primeira equipa de esports , que ainda hoje existe, que é a Grow Up Esports .

E a partir daí sempre fui a subir. Eu comecei lá está, como um jogadora casual, o cenário felizmente começou aí. Depois tivemos a nossa Federação Portuguesa de Futebol em 2021 e organizamos o primeiro torneio exclusivamente feminino.

Eu consegui ganhar, felizmente. Depois lá está, já passei pelo Tondela , passei pelo Braga , passei pelo Rio Ave e mais recentemente nesta época estou no Futebol Clube do Porto .

Miguel: Exatamente. Eu já agora, eu também era viciado quando era mais novo em videojogos. No FIFA, por exemplo, jogava muito com os meus amigos também, mas nunca tive essa vontade, se calhar, eu também nunca fui bom o suficiente para entrar um bocado nessa área profissional.

Por isso só jogava um bocado quando saía da escola com os meus amigos para me divertir no fim da semana.

Miguel: A sua rotina? Fala um bocadinho da tua rotina. Se treinas muito tempo? Como é que geres esse bocado?

Raquel: Lá está ao longo dos anos a minha rotina profissional, vamos assim. Porque lá está o FIFA, não é a minha profissão e acabou por ir mudando consoante também ao que eu fazia na minha vida. Ou seja, o meu doutorado, quando comecei a jogar já estava no meu primeiro ano de doutorado.

Foi sempre difícil de conciliar. Depois das aulas. Atualmente também, mais recentemente, estou a trabalhar.

Por isso lá está, dependia sempre do que eu estava a fazer e também dos torneios que eu tinha. Eu treino mais quando tenho torneios, sou capaz de treinar 3 ou 4 horas por dia, nem que seja pós-laboral, vamos assim.

Acabo sempre por treinar mais. Mas lá está, fazer uma rotina. Pelo menos quase todos os dias eu jogo, nem que seja uma horinha.

Porque lá está no FIFA e o meu próprio treinador do FC Porto diz que o que importa é termos a qualidade no treino e não a quantidade. É mais importante jogarmos, por exemplo, 2 ou 3 jogos bons do que estarmos a spamar 3 horas ali.

Jogos que chegam a passar de uma hora e meia, duas. Já estás a fazer as coisas tão mecanicamente que não estás a treinar. Por isso eu pelo menos lá está, todos os dias tento uma horita. Ou seja, pelo menos dois jogos para me manter ali. Porque, por exemplo, quando vou de férias e estou uma semana sem jogar, desaprendo. É como um jogador de futebol, tem que treinar quase todos os dias.

Ou fazer ginásio, ou seja, para manter a condição física. Nós também jogadores temos que jogar. Ou às vezes, se não jogarmos tanto, recomendamos ver a jogabilidade de pro-players . Para aprendermos, para adquirirmos mecânicas que eles fazem nos jogos. Eu, por exemplo, adoro o FIFA, obviamente, no global. E às vezes é o fim da semana, posso não estar a jogar, mas às vezes 2 horas para ver um torneio competitivo.

E quando vou jogar, nas últimas 2 horas nesse mesmo dia, já estou a jogar melhor. Ou estou a jogar com a calma, que eles também conseguem jogar. Adquiro só de ver. Lá está, a parte da memória acabo por adquirir. E depois quando jogo, já jogo melhor. Por isso a minha rotina às vezes é muito jogar. Mas também ver as pessoas melhores do que eu a jogar.

Miguel: Exato. Como em tudo na vida também, temos que focar sempre nas pessoas que são as melhores que nós. Para podermos crescer também. Também já explicaste como é que te preparas um bocado para os torneios, que é quando estás mais focada e gastas mais tempo com o Fifa.

Diz-me nesses torneios, normalmente participas mais a nível individual ou vocês têm uma equipa e vocês jogam em equipa?

Raquel: Nós no Futebol Clube Porto somos 2 raparigas. Temos 5 membros, são 3 rapazes e 2 raparigas. Mais recentemente tivemos em Janeiro um torneio da eLiga em Leiria, que o Futebol Clube Porto venceu. E éramos duas, mas o torneio era individual. Ou seja, por exemplo, eu ia jogar contra o Portimonense e a minha colega na ronda a seguir ia jogar com oFarense , do mesmo grupo. Ou seja, apesar de sermos duas a representar o mesmo clube, é de 1 para 1. Porque este ano a modalidade em si é só de 1 para 1. Mas por exemplo, no ano passado, tivemos um torneio de 2 para 2. A parte competitiva do Fifa também incluiu a competição de 2 para 2. Ou seja, eram duas pessoas contra mais duas pessoas.

Ou seja, por acaso, tenho um bocado de saudades dos 2 para 2. Porque acaba mesmo por englobar mais a equipa em si. E acaba até por ser um modo mais engraçado. Mas por acaso, o competitivo este ano, houve a separação, a Fifa a trabalhar com a EA e neste EAFC , porque o jogo chama-se EAFC 24, houve a separação da Fifa com a EA e a EA acabou por optar pela parte competitiva de 1 para 1. Para mim é pena, pode ser que entretanto voltem ao 2 para 2. Sim, porque o 2 para 2 acaba por obrigar as equipas a terem mais pessoas.

Porque tens de ter pelo menos 3 jogadores, porque achas que pode acontecer alguma coisa a um jogador ou para o treinador ter mais opções. Por isso o 2 para 2 eu acho sempre mais vantajoso. Até em termos do público, às vezes gosta de ver mais assim um 2 para 2.

Miguel: Exatamente. Agora que tocaste no 2 para 2, qual é a característica que achas mais importante para sairmos bem no trabalho coletivo? Achas que é uma comunicação, talvez?

Raquel: Comunicação e sentido de responsabilidade. Principalmente, estávamos falando até no Futebol Clube Porto, acho que temos mesmo que sentir o clube que representamos e ter ética de trabalho para chegarmos aos resultados devidos. E quando nos preparamos para o torneio de Leiria em Janeiro que ganhamos, preparamos a priori, obviamente, o torneio. E eu felizmente tenho um treinador e uma colega de equipa que tem a mesma mentalidade que eu tenho e que o clube tem, que é vencer e trabalhar para isso. A coisa mais importante em termos é ter uma intenção vencedora, mas também trabalhar para isso. Porque se não trabalhamos, também não ganhamos.

Miguel: Exatamente, isso é o mais importante. E tens alguma dica que gostarias de partilhar quando estás nesta preparação para os torneios quando estás a jogar 2 para 2 ou mesmo a jogar individualmente? Alguma dica que gostarias de partilhar para ser melhor ou o que é que achas que te torna melhor, no fundo? Achas que é mais o treino ou, como disseste anteriormente, ver jogadores mais conhecidos ou melhor classificados a jogar?

Raquel: Lá está, tens de ter as... Incorporável é a componente do treinador.

Acho que lá está, quando estás a treinar para te tornares melhor, tens obviamente de meter horas no jogo e treinares para tal. Ver as pessoas melhores do que tu a jogar, jogares contra pessoas melhores do que tu.

Porque lá está, eu às vezes jogo contra um colega de equipa meu. Levo 5 num jogo. Levo no primeiro, segundo, terceiro jogo, mas se calhar ao décimo jogo só levo um 2-1. Estou a dizer isto porque falo de exemplo próprio. Principalmente dou este conselho às pessoas que estão a começar.

Felizmente o nosso cenário feminino está a crescer cada vez mais e temos jogadoras mais novas que ainda estão a começar. Eu digo sempre que vocês têm de competir, quer seja em torneios mais amadores para sentirem a pressão. Saber sentir a pressão, porque tu podes ter muito talento para jogar o jogo, mas se não tens uma boa capacidade mental nunca vais conseguir ganhar.

Para mim é mesmo o que distingue um bom jogador de um campeão é a capacidade mental, principalmente num esport . Porque se tem uma mentalidade fraca, há muitos jogadores que estão a perder, vão muito abaixo e às vezes são muito superiores ao adversário em termos técnicos. Mas na capacidade mental o outro é superior.

As coisas às vezes que eu digo, tipo a colega das minhas que estão a começar há pouco tempo, treinem, mas treinem acima de tudo também a capacidade mental e o habituarem-se a sentirem a pressão do presencial. Por isso é que às vezes é bom nós competirmos em torneios mais amadores. Porque muitas delas às vezes dizem que ao começar sentem as mãos a tremer, que era o que eu sentia quando eu comecei.

E hoje em dia ainda sinto aquela ansiedade. Mas isso é uma coisa que se trabalha. A Raquel quando começou, que tremia as mãos, agora não treme as mãos.

Por isso essa capacidade mental é mesmo uma coisa que se adquire também com o trabalho. Tens que treinar o jogo, mas também essa parte mental também tem que ser muito trabalhada. Hoje em dia já há equipas que além de treinadores já têm psicólogos, por exemplo, para trabalhar com psicólogos do desporto .

Miguel: Exato, acredito. Até porque eu percebo-te completamente porque eu ainda jogo futebol. E mesmo depois de 15 anos já a jogar futebol e a jogar de forma competitiva sempre que entra dentro de campo sinto aquele friozinho.

Raquel: Aquele friozinho, sim.

Miguel: Exatamente. E é bom saber.

Raquel: Acho que é das melhores sensações. Sentir que estás aqui, vou competir. Há pessoas que às vezes pensam porque é que estou-me a sair tão nervoso por ser só um jogo? Mas lá está isto, nunca será só um jogo. Até o slogan da federação, nunca será só um jogo . Lançaram uma campanha há dois anos.

Porquê? Porque acho que quem joga este jogo sente mesmo que não é só um jogo. Também faz parte da nossa vida. Nos momentos bons, nos momentos menos bons. E é isso.

Miguel: Exato. Já agora, já vi que lida smuito bem com a pressão.

Raquel: Tenho dias.

Miguel: Se não, não eras quatro vezes campeã nacional. Nesse aspecto, sentes-te realizadas com os teus títulos? Consegues sair fora de um bocadinho da Raquel e conseguir ver o que é que já alcançaste até agora e o que é que desejas alcançar mais?

Raquel: A mulher que começou a jogar, porque lá está a rapariga. Quando comecei com 26 anos, quando comecei a jogar casualmente, nunca pensei em chegar onde já cheguei e ter ganho. Já ganhei duas vezes, três vezes títulos da federação e mais recentemente o da Liga Portugal . A nível nacional, felizmente já consegui ganhar tudo o que havia para ganhar. Por exemplo, o facto de estar no Futebol Clube do Porto, que é o clube do meu coração, e o facto de ter ganho o primeiro título de equipa pelo Futebol Clube do Porto, só me dá vontade de vencer mais. Uma pessoa pode ganhar os títulos que quer ganhar, mas acho que nunca se cansa. O Cristiano Ronaldo , o Pepe , já ganharam o Euro, já ganharam a Liga dos Campeões . Eles nunca se cansam de querer ganhar, porque para isso mais vale arrumar as botas, arrumarmos o comando e estarmos no nosso canto. Acho que uma pessoa quando ganha, mais fome tem de ganhar e se tiver essa mentalidade de campeão e de...

Miguel: Exatamente isso, é que eu também admiro muito em ti, é essa mentalidade em ti, Ronaldo , Pepe , em vários jogadores, é essa mentalidade de campeão que já ganharam quase tudo ou tudo que existe para ganhar e mesmo assim continuar a acordar com a mesma mentalidade, com a mesma fome e com a mesma ambição de sempre.

Raquel: Sim, por exemplo, a ética do Cristiano Ronaldo pode ter as qualidades e os defeitos que tem, mas a ética de trabalho que ele tem... Ok, agora está a jogar na Arábia , mas a ética de trabalho que ele tem, quando está de férias ele mete fotos no ginásio a treinar, a ética de trabalho que ele tem aos 38 anos, aos anos que ele já tem, e mesmo o próprio Pepe com 41 anos, a exibição que ele fez no outro dia contra o Arsenal , aquele homem parece que tem baterias que nunca acaba.

Miguel: É verdade.

Raquel: Para a maioria dos 41 anos o Arteta do Arsenal já é treinador há quantos anos?

Miguel: É verdade.

Raquel: A ética de trabalho que tem e acima de tudo a resiliência, porque acho que também tem de ser muito resiliente para continuar principalmente ao mais alto nível, seja no futebol, seja nos esports . Também tens de ser resiliente porque vais ter altos e baixos.

Obviamente que nós dos esports também sentimos isto, há épocas menos boas, há épocas em que tu sentes que atinges o teu pico, porque o mais difícil é que tu mantenhas a consistência ao longo dos anos.

Por isso as nossas referências, por exemplo, do FIFA Nacional, o Tuga 810 , o Rasta Artur , que são jogadores que estão praticamente desde o início, o SOMOSNOS também, são jogadores que tiveram os altos deles, os baixos deles, mas são jogadores que são muito consistentes e já ganharam imensos títulos e continuam hoje a dar cartas, porque acho que a palavra que os define também é a resiliência e a ética de trabalho que também têm.

Miguel: Tu, a nível internacional, há algum torneio que tenhas em mente ou que que ainda queiras alcançar ou que era uma paixão tua representando o Porto, por exemplo, a nível internacional?

Raquel: Felizmente o ano passado na certificação FIFA um torneio na Suíça, o Famer Her Game , foi assim um bootcamp, foi chamado o Mundial, passou assim, eu fiz Top 4.

Miguel: Espetacular!

Raquel: Fiz Top 4, por acaso foi um excelente resultado. Fiz Top 4, na altura gostei de representar o Rio Ave. Obviamente que eu gostei de ir lá fora outra vez e representar o Porto.

Para mim era um sonho. Nesse torneio da Suíça eu estava a representar Portugal. Eu tenho na minha parede as camisolas e tenho a camisola da seleção de esports , que é a mesma camisola específica dos esports , que também foi uma coisa que eu sempre quis, foi representar a nossa seleção.

Por isso, para mim a Suíça foi em junho do ano passado, para mim foi fazer o Top 4 nunca, obviamente o Top 4 contra o conta, não ganhei, mas foi uma sensação única para mim, representar a seleção, sempre tive esse sonho, pensei. O Porto ainda pensei, é capaz, mas Portugal e internacionalmente, eu adoraria conseguir representar a seleção novamente, e o nosso país, mas o futebol clube do Porto, obviamente, representar oFC Porto , seja onde for, sinceramente.

Miguel: Isso é um sentimento, representar a seleção, deve ser um sentimento incrível mesmo. Achas que foi o pico, neste momento, até agora da sua carreira nos esports ? Ou sente que existe outro pico de felicidade, que foi maior que esse?

Raquel: Por mais patriota que eu seja, sinceramente, o pico para mim da minha carreira até o momento, foi mesmo este título mais recente, em janeiro da Liga Portugal , porque sempre quis ganhar um título. Teve a ambição no torneio da eLiga, que eu perdi o ano passado, contra o futebol contra o Porto, ou seja, nós fomos bicampeãs este ano, e eu já tinha dito aos meus colegas o ano passado, quando ela ganhou, eu estava no Rio Ave, disse, para o ano vou ganhar eu, e ganhei com ela, este ano. Por isso eu tinha a mesma ambição de ganhar a eLiga, e obviamente representar o futebol clube do Porto, e ter ganho este título, que era o que me faltava aqui em Portugal. Para mim esse momento foi mesmo o top para já, acho que vamos conseguir ganhar mais títulos, e sempre quis ganhar um torneio por equipa, pelo futebol cuble do Porto.

Miguel: Exatamente, espetacular. E tu achas que, tu falaste-me que há equipas tanto femininas como masculinas, tu achas que neste momento existe alguma discrepância, quer a nível salarial, quer a nível de condições, alguma desigualdade entre a parte masculina e a parte feminina?

Raquel: Em termos de condições, sinceramente não. Felizmente, desde 2020 até agora, as equipas têm investido mais, e esse investimento também advém por parte da Federação e da Liga, também investem em nós, e fazem mais torneios, acaba por ser um ciclo, obviamente. Claro que em termos salariais, ainda há diferença. Dizendo assim de cabeça, só conheço duas, três pessoas, se calhar, jogadoras femininas que conseguem fazer esta vida.

Mas também é um bocado, dos jogadores profissionais masculinos, é capaz de ter 50, nós somos neste momento, se calhar, 15, 18. Ainda há assim uma diferença, e os clubes ainda não investem tanto em nós, em termos salariais, porque os torneios, apesar de existirem, ainda não têm o mesmo prémio, o mesmo Prize Pool , que têm os torneios masculinos. Dez dos nossos torneios, por exemplo, com prémios de 2 mil, têm prémios de 10 mil euros.

É completamente diferente. Dezenas de jogadores aqui em Portugal vão receber 2 mil euros por mês. Mas isso é o topo das organizações, obviamente, que não são todos os jogadores. Há jogadores que recebem, se calhar, até menos do que eu ou não recebem nada.

Miguel: Depende da situação.

Raquel: Depende da situação. Por isso, mesmo na parte masculina, também não é tudo rosas, e também têm os seus quês. Mas lá está. Em termos salariais ainda há esta diferença.

Poucas de nós fazemos isso de vida. Temos sempre que conciliar com outros trabalhos. Mas espero daqui a 10, 15 anos, que as coisas evoluam. E que, sinceramente, eu ainda faça parte disso, porque acho que não vou deixar de jogar tão cedo, enquanto consigo conciliar as coisas. Não estou a me ver capaz de... E gosto de competir. Porque muitas pessoas, às vezes, deixam os esports, porque perdem aquilo, ou é cansaço. Ou perdem mesmo aquele gosto. Já falei com umas pessoas que, às vezes, deixaram. E nota-se mesmo que perdem aquela paixão.

E, às vezes, quando perguntam, mas sintes falta de competir, eu digo não, acho que até foi a decisão certa de deixar de competir. Para mim, no meu caso, pelo menos para já, espero daqui a 5 anos estar presente para ver, espero eu, ver a evolução.

Miguel: Exatamente. Tu falaste agora nas competições. Tu nas competições, falámos agora também da desigualdade, já sentiste algum tipo de preconceito em alguma competição? Já tiveste algum episódio que gostarias de contar?

Raquel: Em termos competitivos, não. E mesmo com a comunidade masculina, aqui em Portugal, são bastante receptivos mesmo quando estamos, porque, por exemplo, as nossas competições femininas, às vezes, são no mesmo dia deles.

E estamos ali num ambiente porreiro de todos e eles apoiam e gostam também de ver os nossos jogos. Às vezes até dizem, às vezes os jogadores de topo, tipo o Tuga ou o Rasta , dizem que às vezes até gostam mais de ver os nossos jogos que até dá mais pica, mais emoção. Porque nós não temos aquelas mecânicas tão chatas, aquelas jogadas meta que eles fazem.

Dizem que até acham mais piadas, mas eles são super receptivos. Lá está, mas a comunidade no geral, o FIFA é um jogo dominado por homens.

Miguel: Maioritariamente masculino.

Raquel: Maioritariamente masculino, dominado por homens. Quando eu comecei em 2020, em 2021, também comecei a streamar . E às vezes na Twitch tinha alguns comentários, do gênero, “vai para a cozinha”, ou “o teu lugar é na cozinha”. E pá, eu na altura, obviamente, eu não era grande jogadora quando eu comecei, mas eram uns comentários, às vezes, um bocado desnecessários. E mesmo online, às vezes, recebia certos insultos e tudo mais, mas hoje em dia na própria comunidade, acho que também já cresceu. Às vezes recebo comentários, por exemplo, em inglês, mas vou dizer em português, por exemplo, bom jogo bro e eu digo, tipo, não sou um bro, sou uma rapariga. E as pessoas dizem, tipo, bom jogo na mesma, jogam super bem, não sabia de raparigas a jogar a este nível.

E são pessoas que às vezes, tipo, de repente, às vezes até me seguem no Instagram, já me aconteceu, tipo, já com 3 ou 4 rapazes, eles, tipo, ponderam que eu joguei bem, e depois seguem-me no Instagram.

Miguel: Isso é muito fixe.

Raquel: Porque, obviamente, eles pensam sempre que é um homem que está por trás, mas depois têm em consideração, ok, perdi contra esta rapariga, mas, tipo, até vou segui-la e depois começam a seguir a competição feminina.

Isso é brutal. E há 4 anos, 5, pá, não... Mas acho que na Fifa tem havido essa abertura, infelizmente tendo alguns insuportes, principalmente no Valorant da League of Legends , às vezes eu ouço coisas, as mulheres sofrem de uma maneira que é super... Mas, por acaso, no nosso cenário feminino as coisas estão felizmente. E também, neste ano, o UFC incluiu mulheres no jogo, no modo Ultimate Team, que é o modo online que é o modo principal.

E os próprios homens que jogam um jogo, vem uma Alexia Putellas , uma Megan Rapinoe , jogam com essas jogadoras e acabam por seguir como jogadoras na vida real. Acaba por ser uma boa sinergia e mesmo nós, também, os jogadores do próprio esport , acabamos por ter... Sentirmos até um ambiente mais seguro, porque também vemos as mulheres da vida real, do futebol, do do ala, também a terem futebol mais reconhecimento, porque as pessoas também reconhecem mais. Por exemplo, verás Alexia Putellas jogar hoje pelo Barcelona .

E também acabou por ter a inclusão das mulheres no próprio jogo, no modo Ultimate Team , para mim foi das melhores coisas que a EA poderia ter feito. Só espero... A EA, por acaso, não tem uma luta exclusivamente feminina, mas também este ano, com a quebra com a FIFA, está a ser um ano de transição, seria extremamente positivo, já que tem mulheres no jogo, da vida real, no jogo, por ainda as nós mulheres do comando, a ter competições exclusivamente femininas, seria excelente, ou pelo menos termos um misto entre homens e mulheres. Temos, tipo, eu joguei com o Rasta Artur, que é a minha colega de equipa, por exemplo, eu consegui jogar um misto com ela, acho que seria, tipo, até o primeiro passo também para o cenário feminino também evoluir, que termos ali uma sinergia com os homens, competições mistas, eu já disse isso imensamente.

Miguel: Isso foi excelente.

Raquel: Para mim, eu acho que seria uma boa maneira também dos clubes também a investirem em nós, porque se houvesse competições mistas, tens que ter um plantel feminino.

Miguel: Exatamente. Então, mesmo dando ideias, quer a jogar, quer a dar ideias, sentes que está a contribuir para esta evolução do mundo feminino, pelo menos em Portugal.

Raquel: Eu acho que a contribuição, acho que às vezes é um bocado gabarolas quando eu digo isto, mas comecei em 2020, nós éramos poucos, éramos 10, muitos deixaram, as novas chegaram. Às vezes pelo Instagram, contacto com miúdas que querem jogar competitivamente, e adiciono a um grupo WhatsApp com as miúdas do FIFA aqui em Portugal.

Por exemplo, só neste ano acho que consegui chamar outras raparigas para começarem. Isso para mim é tipo... Porque eu penso sempre, se eu não chamar também, não estou a dizer que é o meu papel, mas se eu também não contribuo um bocado para as miúdas novas que estão a começar, sentirem que tem um ambiente seguro para estar, porque nós quando começamos em 2020 não tínhamos. Se eu também não contribuir para isso, o cenário também não evolui, nós temos que evoluir sozinhas.

Somos mulheres, somos menos. Nós temos todo um grupo de WhatsApp em que os jogadores profissionais de FIFA aqui em Portugal, temos esse grupo. Às vezes chamar as miúdas mais novas, para sentirem-se à vontade, para conhecerem, e a partir daí as miúdas também vão evoluir, porque eu penso, eu poderia estar no meu canto e não fazer nada.

Mas depois são as miúdas que vão saindo, e também não aparece talento novo. Isso é importante. Porque se eu também deixo isso acontecer, deixo-me estar no meu canto, o cenário não evolui e depois eu deixo até de ter contra quem jogar.

Miguel: Exato, e também eu faço um bocado isso quando recebo algumas mensagens, já um bocadinho fora dessa área, pessoas que querem começar uma marca de roupa ou querem começar a empreender, porque eu faço vídeos também sobre a minha jornada, e as pessoas me vêm perguntar, e eu tenho todo gosto de responder, porque eu quando comecei, infelizmente, também não tive ninguém a ajudar-me e a aconselhar-me.

Raquel: Foi a mesma coisa que eu, exatamente.

Miguel: E pensei muitas vezes em desistir. Não sei se há alguma história, ou se há algum momento em que também pensas o mesmo em desistir dos esports .

Raquel: Sim, já tive. Já tive os momentos mais abaixo, mas lá está o background que tenho de pessoas a apoiar-me também acaba por não me deixar muito que isso aconteça.

Miguel: Exato, é isso mesmo.

Raquel: E também quando penso melhor sobre o assunto. Tomar as decisões quando estás embaixo também não faz sentido nenhum.

Miguel: Concordo, concordo. Mas sente que existe algum momento marcante para ti, que querias desistir? Ou foram sempre pequenas coisas negativas que aposto e que estás a pensar, eu consigo superar isso?

Raquel: Não, foram pequenas coisas negativas. Acho que o momento mais negativo até foi o ano passado, quando não consegui me qualificar para a fase final, para apoiar a campeã nacional. Porque fui bicampeã nacional, ou seja, não estou muito habituada a perder nas fases finais. E foi assim um momento mais baixo.

Mas também foi assim um alerta para perceber que eu também não posso, obviamente, ganhar sempre. E eu hoje em dia quando perco, obviamente. Fico chateada, mas não... Mas penso logo, tipo, passada uma ou duas horas, tenho de trabalhar para voltar a ganhar.

No ano passado não consegui ganhar nenhum título. Fiz aquele top 4 na Suíça. Foi o meu melhor resultado, não ganhei nenhum título. Ou seja, em termos de títulos foi o meu pior ano. Mas...

Miguel: Mas o desempenho foi brutal, ires à Suíça...

Raquel: Sim, foi bom, mas é tipo o meu treinador do Porto. O ano passado ele não trabalhou comigo, mas eu já o conhecia e dava-me super bem com ele.

Mas ele disse, “Raquel o ano passado fizeste top 4, mas não ganhaste. Isso para mim não é um mau resultado”. E eu, pois, realmente tens razão. Porque ele diz, o que importa são os títulos que vão para o museu.

Migue: Sim, isso é verdade.

Raquel: E a verdade é essa. Nós ainda há poucos dias inauguramos, o FC Porto inaugurou o espaço dos esports lá no museu. Disponha lá as taças que o clube já ganhou, a minha taça a taça que eu trouxe, inclusivamente. É...

Miguel: Faltou a Suíça.

Raquel: Não, pois...

Miguel: Não, mas isso é bom. Isso também acontece muito no futebol, porque, como deves saber e acompanhas também o futebol, as pessoas, as equipas, às vezes jogam bem e nem sempre ganham. E depois o que as pessoas dizem é que o que importa é os 3 pontos.

Raquel: Sim, o que importa é ganhar e depois é ganhar os títulos. Títulos que vão para o museu. Isso fica na história, não é? Fazer um top 3 ou um apuramento para a Champions . É isso que fica. É bonito e tal. Às vezes ganhas uma medalha de segundo lugar. Mete-se em casa, mas pronto.

Miguel: Mas no museu só estão as taças.

Raquel: Pois, as melhores medalhas ficam com elas.

Miguel: Exatamente. E sentes esse apoio, agora que estás no Porto e que estás a ganhar títulos, esse apoio da parte de fora está a crescer. Como é que vsê essa interação com os adeptos e com esta tua comunidade, já que você também fazes streams na Twitch ? Qual é essa relação que vocês têm? Vocês têm uma relação de proximidade?

Raquel: Por acaso, o Futebol Clube Porto tem um... Até dou-me bem com alguns adeptos e às vezes já estive num evento e até pediram fotos, coisa que eu não estava habituada, sinceramente.

Já representei alguns clubes, obviamente mas são clubes de uma dimensão, não desmerecendo, mas de uma dimensão inferior ao Futebol Clube do Porto. E quando fui a um evento, até acho que foi em dezembro, acho eu. Num evento da federação, veio um adepto pedir-me foto. Eu não estou habituada, fiquei assim um bocado, por isso é sempre a interação com os adeptos é brutal, principalmente quando eles nos reconhecem.

Miguel: Exato.

Raquel: Eu acho que aí está. Os adeptos são extremamente importantes e depois, quando temos uns torneios, estão lá no chat da Twitch apoiar,

Miguel: Apoiar, isso é incrível.

Raquel: Isso é brutal.

Miguel: Eu também lá está eu com os meus vídeos também. Às vezes também…

Raquel: E manda às vezes mensagens depois no Instagram e tal.

Miguel: Isso é incrível. Por acaso são as coisas, a coisa que mais me enche o coração é quando recebo mensagens de pessoas que me dizem “Olha, és a minha inspiração, começaste quando eras novo, eu também vou querer começar a ver muito do teu trabalho” e acho que é isso que fica.

Raquel: Eu recebi essa mensagem exatamente ontem, porque ontem tive uma final do torneio assim pronto não oficial, mais amadora, uma final que eu perdi. É uma colega minha de profissão, que ela está representando o Farense. Ela mandou uma mensagem, e a dizer isso, “Raquel para mim continuas a ser a melhor, és a minha inspiração.” foi uma das miúdas que eu eu falei à bocado que até chamei-a mesmo para ela vir jogar e ela mandou essa Mensagem e tipo…

Miguel: Enche-te o coração

Raquel: Enche-me o coração, porque vejo que realmente ao menos o trabalho que estou a fazer está a ser bem feito e consigo continuar a inspirá-la e a querer que ela própria melhe. Isso para mim, isso e sinto que lá está. Tipo, é uma miúda muito mais nova do que eu e espero que daqui a uns anos, esteja num nível muito superior.

Miguel: Neste momento, se essa rapariga nos estiver a ver, que conselho é que lhe darias para seguir as tuas pisadas como atleta, de esports? O que é que achas que ela deve fazer para conseguir chegar ao teu nível?

Raquel: Eu já a conheço, por isso é que eu sei que a capacidade mental dela é o pior que ela tem neste momento é o que trai mais é os nervos. Lá está, eu acho que, acima de tudo, a parte mental é a mesma que tens que trabalhar, podes estar a perder 1-0, 2-0, 3-0 e pensares sempre que consegues.

Consegues dar a volta, por exemplo, eu tive um treinador no passado que teve a trabalhar comigo, eu também estou a dizer coisas que me acontecem comigo. Às vezes estou a perder 1-0, 2-0 e penso sempre, já não dou a volta. O meu treinador do ano passado dizia “Raquel basta fazer um ataque bom, 2 ataques bons que voltas a empatar”. E hoje em dia ainda me lembro, quando ganhei o torneio em Leiria. Eu sofri um golo aos 90 minutos e fomos para prolongamento e eu lembrei-me dele aí, tenho o meu treinador do Porto, mas foi um treinador diferente que trabalhou no ano passado e lembrei-me dele dizer “Raquel basta um ataque bom” e foi o ataque bom que eu fiz aos 118 e ganhei. Ganhei e consegui ganhar o título para nós. Por isso eu acho que lá está. Nós podemos estar em baixo no jogo, mas sentir sempre que podemos dar a volta e tentar mesmo manter a calma, porque depois entra numa espiral.

Miguel: Negativa.

Raquel: Principalmente quando miúdos que estão a começar e mesmo torneios que não são oficiais, torneios amadores, participarem no máximo de coisas que conseguem para sentirem o peso do competitivo, podem não ser uma coisa oficial, mas sentir aquele peso de que estão a competir.

Isso é mesmo um treino que vai pôr aqueles nervos e melhorar a tua capacidade mental para quando você está a ganhar saber gerenciar o jogo e quando está a perder para conseguir dar a volta. Porque isso também é uma coisa que se treina.

Miguel: E tu acreditas que tanto o eSports como o desporto maioritariamente até ao futebol, que é o que é considerado o desporto rei atualmente. Achas que tem um impacto positivo na sociedade ou achas que o impacto que está a trazer atualmente é negativo?

Raquel: Os eSports?

Miguel: Sim.

Raquel: Sinceramente eu acho que é positivo, que é um impacto positivo. Há bocado falaste na campanha do “Nunca será só um jogo” da Federação. Eu fui convidada na altura pela Federação para ser a cara da parte feminina porque tinha sido bicampeã nacional da Federação. E acho que lá está o slogan “nunca será só um jogo” e a publicidade passou no Canal 11 e teve cartazes. Hoje em dia, as pessoas realmente têm a consciência de que os eSports não são apenas um jogo, são muito importantes, muito importantes para nós como o futebol é importante, os eSports são importantes para os jogadores e jogadores, os eSports, o FIFA, Call of Duty e CS também são importantes para nós, porque nós vivemos muito o desporto e quem só vê treinos na Twitch ou vai aos torneios presenciais e vê o que nós sentimos. Aquilo para nós é um desporto, não é mesmo só um jogo que realmente sentimos. Sim, vivemos isto e é a nossa paixão como o futebol, como o andebol também é para outros.

Miguel: Exatamente. Então eu tinha aqui uma frase para ti que era “Futebol ou eSports”, mas já vi que vai ser eSports.

Raquel: O que eu gosto mais?

Miguel: Sim.

Raquel: Esports para mim, o FIFA para mim tem poder no mesmo lugar especial, mas é diferente para mim. Para mim o futebol, sou do FC do Porto, para mim a maneira como eu vivo o FC Porto nem sempre é saudável. Mas os eSports também são a mesma coisa. Já vejo mesmo muito paralelismo, a maneira como sinto os esports, mesmo quando vejo os meus colegas do FC Porto a competir, sofro por eles de uma maneira que também não é muito normal, que é a mesma maneira que eu torço pelo futebol clube do Porto, do futebol real.

Por isso eu acho que sinceramente lá está o futebol e o FIFA convergem de uma maneira que também não consigo separar, são mesmo uma paixão,

Miguel: Isso é bom. Sentes que o eSports para ti, mesmo nos dias maus consegue ser um refúgio, sentes que há pessoas que também vêm esse desporto como um refúgio e para se sentirem melhor e mesmo a maneira de ganhar uma comunidade forte e criar uma comunidade forte em si também é grande, porque não precisas de te juntar a todos num campo pode estar cada um em sua casa. Achas que isso também é bom?

Raquel: Sim, muitas pessoas jogam FIFA de uma maneira casual, como escape também da vida. Claro que obviamente os jogadores competitivos também pensam um bocadinho nisso, mas nós muitas vezes não tiramos assim tanto divertimento do jogo porque ou parte do treino e a parte mesmo competitiva, também tem que se lhe diga. Depois a parte mental, mas muitas vezes sim, eu também estou a treinar, mas também para mim também é um escape num dia às vezes menos bom. Estou ali na minha horinha de treino e tipo, não estou, não estou a pensar em mais nada.

Miguel: Tenho uma frase para ti, para acabarmos isto, que é “que frase dirias ao teu melhor amigo neste momento”, qualquer coisa imagina que ligavas agora, que tinhas que ligar agora e dizer-lhe algo, o que é que tu dirias?

Raquel: Sinceramente, é “obrigada por todo o apoio que me deste”.

Miguel: Isso é excelente.

Raquel: É porque dá mesmo para tudo.

Miguel: E também temos que…

Raquel: Seja eSport , seja carreira profissional, acadêmica. Sempre fui uma pessoa assim, que pessoas… Que são duas as que mais me apoiam.

Miguel: Isso é excelente

Raquel: É mesmo obrigada pelo apoio que sempre me deram.

Miguel: Acho que as pessoas às vezes esqueceram-se um bocado também de ser gratos a também essas pessoas…

Raquel: E a família porque lá está posso trazer amigos, mas a minha família também sempre me deram um apoio extraordinário. Tudo da minha vida, incluindo os eSports. Às vezes, os eSports a parte familiar nem sempre entendem, mas hoje, cada vez mais, os pais também conseguem perceber e apoiar os jovens, miúdos e miúdas que começam, por isso é sempre extremamente importante o apoio que recebemos de tanto amigos como de família. Também para seres melhor, para também fazeres algo que a família também não apoia…

Miguel: É complicado,

Raquel: É complicado, mas felizmente tenho esse background . O que é extremamente importante para tudo, para tudo o que eu faço na vida.

Miguel: Isso é o mais importante, porque às vezes nós começamos e muitas das vezes também vamos abaixo, porque lá está também nos falta aquele suporte por trás que muitas pessoas não têm e fico feliz neste caso por teres e também obviamente foram um dos pilares para a tua caminhada até agora

Raquel: Sim, foram mesmo.

Miguel: Raquel, muito obrigado por este momento incrível.

agradeço-te do fundo do coração teres vindo.

Não vou esquecer esta conversa de certeza e quanto a vocês preparem-se para o próximo episódio de Inspired by Legends .

Grande abraço.


Ao longo deste emocionante episódio do Podcast Inspired by Legends, conhecemos o mundo dos eSports através da perspectiva única de Raquel Martinho. Desde os valores que a inspiram, até ao cenário competitivo, cada momento partilhado sobre o que significa ser um atleta de eSport de sucesso. Para além de nos contar sobre a sua jornada, também trouxemos dicas e conselhos práticos para aqueles que estão a começar a sua jornada nos eSports.

Exploramos questões importantes, desde a inclusão feminina no mundo dos jogos até as discrepâncias salariais e as desigualdades de gênero ainda visíveis. Raquel não fez apenas esses desafios, como também trabalhou para criar um ambiente mais inclusivo e equitativo para os futuros concorrentes.

Relembramos o impacto positivo que os eSports têm na sociedade, inclusive na vida de cada pessoa. É uma arena onde a paixão, a dedicação e a habilidade se encontram para criar momentos de pura emoção e camaradagem.

Deixemo-nos inspirar pelas palavras de Raquel Martinho e seguir os nossos sonhos com a mesma determinação e coragem. Que este episódio nos motivou a abraçar os desafios, apesar das dificuldades e a acreditar sempre no poder transformador do eSport .

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